Síndrome Torácica Aguda na Anemia Falciforme

Síndrome Torácica Aguda na Anemia Falciforme
Tiago Lima Arnaud
12/12/2024
5 min

A dor torácica e dispneia em pacientes falciformes exigem avaliação rápida. Conheça os principais exames, diagnóstico diferencial e tratamento adequado.


Como diagnosticar a Síndrome Torácica Aguda?

A síndrome torácica aguda (STA) é uma complicação grave em pacientes com anemia falciforme. Seu diagnóstico exige a presença de uma nova radiodensidade na radiografia de tórax envolvendo pelo menos um segmento pulmonar, associada a pelo menos um dos seguintes:

  • temperatura ≥ 38,5 °C;
  • queda > 3% na SpO2 (Saturação de Oxigênio) basal do paciente em ar ambiente;
  • taquipneia;
  • uso de musculatura acessória, retração intercostal ou batimento de asa nasal;
  • dor torácica;
  • tosse;
  • sibilância.

Avaliação Diagnóstica da Síndrome Torácica Aguda

A avaliação diagnóstica da dor torácica e dispneia no paciente com anemia falciforme deve seguir três pilares fundamentais:

Exame Físico
  • Avaliar sinais vitais e SpO2;
  • Identificar a localização da dor;
  • Realizar ausculta cardíaca e respiratória;
  • Procurar sinais de trombose venosa profunda (TVP);
  • Verificar cateteres centrais em busca de infecção ou trombose.
Exames Laboratoriais
  • Hemograma completo;
  • Contagem de reticulócitos;
  • Tipagem sanguínea e prova cruzada;
  • Porcentagem de hemoglobina S (HbS);
  • Funções renal e hepática;
  • Coletas para culturas microbiológicas.
Exames de Imagem
  • Radiografia de tórax (incidências AP e perfil);
  • Ultrassom beira-leito;
  • Tomografia computadorizada (na suspeita de tromboembolismo pulmonar).

Como deve ser feito o controle da dor?

Na avaliação da dor torácica em pacientes com doença falciforme, o padrão-ouro para determinar a intensidade da dor é o relato do paciente.

Opções Terapêuticas incluem opioides fortes associados a adjuvantes como dipirona ou paracetamol.

Morfina

  • Dose inicial: 0,1 a 0,15 mg/kg (máximo de 10 mg);
  • Reavaliação: a cada 20 minutos;
  • Resgate: 0,02 a 0,05 mg/kg.

Quais outras medidas complementares?

  • Oxigenoterapia: manter SpO2 ≥ 95% ou nos valores basais do paciente, evitando hiperóxia.

  • Fluidoterapia: garantir euvolemia com cristaloides em casos de desidratação, incentivando também a ingesta oral.

  • Antibióticos:
    • Adotar esquema empírico para pneumonia adquirida na comunidade:
    • Cefalosporina de 3ª geração + macrolídeo OU quinolona respiratória;
    • Duração: 7 dias.

Quando indicar transfusão?

Objetiva-se retornar a Hb/Ht basal ou manter Hb em torno de 10 g/dL e Ht em 30%. Deve ser realizada quando:

  • SpO2 < 95% ou abaixo do basal;
  • Hb < 5 g/dL;
  • Queda de Hb/Ht > 10-20% em relação ao basal;
  • Piora clínica ou radiológica;
  • Ponte ou impossibilidade de realizar exsanguineotransfusão.

Quando realizar exsanguineotransfusão?

A meta é reduzir a HbS circulante para menos de 30% e as indicações são:

  • histórico de síndrome torácica aguda grave ou doença cardiopulmonar;
  • envolvimento multilobar na radiografia;
  • progressão rápida ou disfunção de órgãos;
  • hipoxemia grave (SpO2 < 85% ou PaO2 < 55 mmHg).

Não saia sem saber

  • A alta suspeição diagnóstica é essencial para reconhecer a síndrome torácica aguda.

  • Uma radiografia inicial normal não exclui o diagnóstico.

  • Controle eficaz da dor, antibioticoterapia adequada e suporte com oxigênio são fundamentais.

  • Fique atento às necessidades de transfusão.

Referências

  1. Stella T. Chou, Mouaz Alsawas, Ross M. Fasano, Joshua J. Field, Jeanne E. Hendrickson, Jo Howard, Michelle Kameka, Janet L. Kwiatkowski, France Pirenne, Patricia A. Shi, Sean R. Stowell, Swee Lay Thein, Connie M. Westhoff, Trisha E. Wong, Elie A. Akl; American Society of Hematology 2020 guidelines for sickle cell disease: transfusion support. Blood Adv 2020; 4 (2): 327–355.
  2. MELOY, Patrick; RUTZ, Daniel; BHAMBRI, Amit. Acute Chest Syndrome. Journal of Education and Teaching in Emergency Medicine, v. 8, n. 1, 2023.
  3. FIELD, Joshua J.; WILLEN, Shaina; DEBAUN, Michael R. Acute chest syndrome (ACS) in sickle cell disease (adults and children). 2022.
Compartilhe

Veja estes tópicos do Guia que você pode gostar:

03 Fev 2025

Tratamento de Bactérias Resistentes: ESBL e AmpC

Infecções causadas por bactérias produtoras de betalactamases de espectro estendido (conhecidas pela sigla em inglês ESBL) e AmpC são frequentes em ambientes hospitalares. Essas cepas conseguem resistir a cefalosporinas de terceira geração (como ceftriaxona e ceftazidima) e até mesmo de quarta geração (cefepima). Neste tópico, revisamos os principais métodos para identificação dessas betalactamases, bem como as estratégias de tratamento mais atuais e respaldadas por diretrizes internacionais.

20 Jan 2025

Medicamentos na Parada Cardiorrespiratória (PCR)

A parada cardiorrespiratória é um momento crítico em que pode ocorrer uma sobrecarga de raciocínio. Pode ser difícil relembrar quais medicamentos são possíveis de realizar na PCR e em que momentos eles estão indicados. Nesse tópico, iremos revisar as evidências e como fazer os medicamentos na PCR.

Veja mais em nosso blog: