A febre de origem central ocorre em pacientes neurocríticos e está associada a lesões cerebrais. Entenda como identificar essa condição e seu diagnóstico diferencial.
Febre no Paciente Neurocrítico
A febre é um sintoma comum em pacientes neurocríticos, ocorrendo em aproximadamente 70% dos casos. Nesse grupo:
- cerca de 50% das febres têm causas não infecciosas.
- em 28% dos casos, nenhuma causa é identificada, sugerindo febre de origem central.
O Que é Febre de Origem Central?
A febre de origem central é uma condição de elevação da temperatura corporal sem causa identificável, como infecção ou uso de medicamentos, comum em pacientes com lesões neurológicas, como acidente vascular cerebral (AVC), hemorragia intracerebral ou subaracnoide.
Está relacionada a disfunções no sistema nervoso central, especialmente no hipotálamo e tronco cerebral.
É mais frequente em hemorragias cerebrais extensas ou com extensão intraventricular e costuma surgir precocemente em unidades de terapia intensiva (UTI) neurológica.
A febre central associa-se a pior prognóstico, incluindo maior mortalidade e menor recuperação funcional. Entre os impactos negativos da febre em neurocríticos estão:
- Uso excessivo de antibióticos, favorecendo resistência bacteriana.
- Maior permanência em UTIs e custos hospitalares elevados.
- Aumento da demanda cardíaca e do consumo de oxigênio, além de associações com delirium e mortalidade.
Diagnóstico Diferencial de Febre no Neurocrítico
O diagnóstico diferencial da febre em pacientes neurocríticos é amplo, incluindo:
- Causas infecciosas
- Causas não infecciosas:
- Medicamentos (reações adversas).
- Hipertermia maligna.
- Reações transfusionais.
- Insuficiência adrenal.
- Tempestade tireoidiana.
- Síndrome neuroléptica maligna.
- Colecistite acalculosa.
- Isquemia.
- Pancreatite aguda.
- Eventos trombóticos.
A febre de origem central é, portanto, um diagnóstico de exclusão. Um alto índice de suspeição clínica é essencial para identificá-la.
Como Diferenciar Febre de Origem Central de Infecção?
A febre de origem central apresenta algumas características típicas:
- Início precoce.
- Febre alta e persistente, resistente a antipiréticos.
- Ausência de elevação proporcional da frequência cardíaca (dissociação pulso-temperatura).
Já as febres infecciosas geralmente mostram:
- Aumento mais significativo de neutrófilos (desvio à esquerda).
- Resposta parcial aos antipiréticos.
Em ambas as condições, provas inflamatórias e leucocitose podem estar elevadas, dificultando o diagnóstico.
Conclusão
A febre de origem central pode representar até um terço das febres em pacientes neurocríticos, mas seu diagnóstico depende de alta suspeição clínica.
Apesar de sua relevância, a literatura sobre o tema é limitada, ressaltando a importância de uma abordagem clínica meticulosa e do uso racional de recursos, como antibióticos e exames complementares.
Para saber mais
Ouça nosso episódio com discussão de um caso clínco sobre Febre na UTI:
Referências
- Central fever: a challenging clinical entity in neurocritical care. Keshav Goyal, Neha Garg,Parmod Bithal. Central fever: a challenging clinical entity in neurocritical care. Neurocrit Care 2020 June; 13(1): 19-31.
- Honig A, Michael S, Eliahou R, Leker RR. Central fever in patients with spontaneous intracerebral hemorrhage: predicting factors and impact on outcome. BMC Neurol. 2015 Feb 4;15:6. doi: 10.1186/s12883-015-0258-8. PMID: 25648165; PMCID: PMC4324842.