Novos Tratamentos de Tuberculose
O tratamento de tuberculose envolve a combinação de antibióticos por um período prolongado, geralmente seis meses ou mais. Em março de 2023, o estudo TRUNCATE-TB foi publicado no New England Journal of Medicine (NEJM) avaliando estratégias de tratamento mais curtas, de 8 semanas [1]. Aproveitamos a publicação para revisar as novas estratégias de tratamento de tuberculose.
Esquema de tratamento atual
Atualmente, o tratamento recomendado para tuberculose sensível a rifampicina envolve uma fase inicial de dois meses com quatro medicamentos : rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol, conhecidos como RIPE ou RHZE. Depois dessa fase inicial, há uma fase de manutenção de quatro meses com rifampicina e isoniazida. Em pacientes com tuberculose meningoencefálica e osteoarticular, a fase de manutenção é de 10 meses [2].
Esse esquema está associado a uma alta incidência de hepatotoxicidade e neuropatia. Além disso, o tempo prolongado requer recursos para acompanhamento e dificulta a aderência. Em casos de intolerância ou resistência, o tratamento se torna ainda mais longo, com a fase inicial de 6 a 8 meses e a fase de manutenção de 18 a 24 meses.
Novos tratamentos
Existem duas novas abordagens para tratar a tuberculose. A primeira é usar antibióticos que já eram usados para outras infecções, como linezolida e moxifloxacino. A segunda é usar medicamentos novos desenvolvidos especificamente para tratar a tuberculose, como bedaquilina, pretomanida e delamanida [3].
Há uma tendência mundial de diminuir o tempo de antibioticoterapia das principais infecções bacterianas (“shorter is better”) [4, 5]. Terapias mais curtas já foram testadas previamente para o tratamento de tuberculose. Uma revisão sistemática e metanálise da Cochrane de 1999 comparou tratamentos com duração maior de 6 meses com tratamentos menores [6]. O tratamento mais longo teve um pouco mais de sucesso, mas a diferença foi pequena, mostrando que alguns pacientes melhoram mesmo com tempos mais curtos de tratamento.
Em 2021 um estudo publicado no NEJM encontrou que um esquema de tratamento com rifapentina, isoniazida, moxifloxacino e pirazinamida por 4 meses é não-inferior ao esquema básico em adultos [7]. As tentativas de encurtar o tratamento também estão tendo sucesso na tuberculose resistente, situação em que a princípio o tratamento é ainda mais prolongado. Em 2022, outro estudo também publicado no NEJM mostrou que um esquema composto apenas por drogas orais - bedaquilina, pretomanide, moxifloxacino e linezolida - por 6 meses foi bem sucedido no tratamento de tuberculose resistente [8].
O que o estudo encontrou?
O estudo TRUNCATE-TB foi randomizado, open-label, multinacional, adaptativo, fase 2-3 e de não-inferioridade. Foram testadas 4 estratégias de tratamento, cada uma com 5 drogas, por 8 semanas em comparação com o esquema básico. Durante o estudo, duas dessas estratégias foram mantidas - rifampicina + linezolida e bedaquilina + linezolida - ambas adicionadas de isoniazida, pirazinamida e etambutol. Caso o paciente mantivesse sintomas e/ou escarro positivo, o tratamento poderia ser estendido para 12 semanas. O desfecho primário foi uma composição de morte, necessidade de manter o tratamento ou doença ativa após 96 semanas.
Apenas a estratégia de bedaquilina, linezolida, isoniazida, pirazinamida e etambutol se demonstrou não-inferior ao esquema padrão.
Não houve diferença significativa em relação aos efeitos adversos graves (grau 3 ou 4) entre os grupos. Ambos apresentaram uma taxa alta, cerca de 16%. Efeitos grau 3 são graves ou clinicamente significantes, mas não são ameaçadores à vida, enquanto grau 4 são ameaçadores à vida. Dos pacientes que usaram a estratégia não-inferior, 86% conseguiram terminar o tratamento em 8 semanas. Um ponto negativo foi a necessidade de retratamento, 13% com o esquema com bedaquilina e linezolida e 3% com o esquema básico (informações disponíveis no apêndice suplementar do artigo).
O que esse trabalho muda na prática?
Apesar das pesquisas promissoras com tratamentos curtos para tuberculose, o Ministério da Saúde do Brasil ainda indica o esquema padrão para tratamento de tuberculose. Ainda não há recomendação de utilizar tratamentos mais curtos, mas linezolida, moxifloxacino, bedaquilina e delamanida estão disponíveis no SUS para pacientes em esquema de tratamento de tuberculose resistente [9].
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