Manobras para Tratamento de Vertigem Posicional Paroxística Benigna
A vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) é o distúrbio vestibular periférico mais comum. O tratamento é feito com manobras de reposicionamento. Em junho de 2023, um estudo do Journal of the American Medical Association - Neurology (JAMA Neurology) comparou duas manobras para o tratamento da doença [1]. Este tópico revisa a doença e traz detalhes do estudo.
Como reconhecer a VPPB?
A vertigem transitória provocada por mudanças posicionais da cabeça é típica de VPPB. O sintoma dura segundos. O deslocamento de otólitos do utrículo para os canais semicirculares do labirinto estimula as cúpulas e é a causa da doença. O canal posterior é acometido em 85 a 90% das vezes (figura 1).
A manobra diagnóstica mais conhecida é a de Dix-Hallpike (veja o vídeo abaixo). Nela, rotaciona-se a cabeça do paciente em 45º para a direção testada e deita-se o paciente de maneira rápida, deixando sua cabeça pendente em 30º.
A manobra diagnóstica de Semont é uma alternativa (veja o vídeo abaixo). A cabeça do paciente é rotacionada em 45º para o lado contrário ao testado e o paciente é deitado de maneira rápida para o lado contralateral.
As manobras são positivas quando provocam vertigem e nistagmo típico. Os critérios diagnósticos de VPPB de canal posterior e nistagmo típico estão detalhados na tabela 1.
Como realizar o tratamento da VPPB?
O tratamento da VPPB é feito com manobras de reposicionamento. O objetivo das manobras é devolver os otólitos ao utrículo e evitar estímulos inapropriados das cúpulas dos canais semicirculares.
As manobras de Epley e de Semont são as mais usadas para reposicionamento da VPPB de canal posterior. Os vídeos abaixo exemplificam a realização das manobras de Epley e Semont para reposicionamento.
A manobra de Epley é mais fácil de ser realizada em pessoas obesas, enquanto a manobra de Semont é mais apropriada para pacientes com problemas de mobilidade de ombro e pescoço.
Medicações sintomáticas podem ser usadas enquanto o reposicionamento dos otólitos não é realizado. Devem ser prescritas por um período curto, para reduzir náuseas e vômitos. A escolha nesse cenário são os anti-histamínicos como o dimenidrinato.
O que o artigo traz de novo?
A manobra de Semont-Plus foi desenvolvida para aumentar a movimentação dos otólitos. A modificação ocorre na primeira etapa do processo, quando o paciente se deita em um ângulo de 150º. Ou seja, a cabeça deve ficar pendente em 60º (veja vídeo abaixo). Essa adaptação teve melhor desempenho em comparação à manobra de Semont tradicional no tratamento da VPPB do canal posterior [2].
A manobra de Semont-Plus foi comparada à manobra de Epley no estudo publicado pelo JAMA Neurology [1]. Foram incluídos 195 pacientes com diagnóstico de VPPB de canal posterior, randomizados para uma das manobras de reposicionamento. O desfecho primário foi medido em número de dias até resolução do quadro, definida como não haver vertigem induzida por manobra.
No início do tratamento, o paciente era submetido a uma das manobras e recebia orientações verbais para realizá-la em casa nove vezes ao dia - três vezes de manhã, de tarde e de noite.
O tempo para recuperação do quadro de vertigem foi menor no grupo submetido à manobra de Semont-Plus em comparação à manobra de Epley (mediana de 2 vs. 3,3 dias). Reforçando os benefícios da manobra de Semont-Plus no tratamento da VPPB, o estudo traz a necessidade de incorporar essa manobra na prática clínica.
Aproveite e leia:
Diretriz de Tontura e Vertigem no Departamento de Emergência
Tontura é comum no departamento de emergência e tem múltiplas etiologias, variando de causas autolimitadas até doenças graves. Uma diretriz publicada pela Society for Academic Emergency Medicine em 2023 auxilia a sistematizar a abordagem dessa queixa. Essa revisão aborda os principais pontos e recomendações dessa diretriz.
Abordagem do Paciente com Ataque Isquêmico Transitório
Entre 7,5 a 17,4% dos pacientes com ataque isquêmico transitório (AIT) evoluem com acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi) em 3 meses. Em metade dos casos, o novo evento acontece nas primeiras 48 horas após o AIT. Nessa revisão do mês, trazemos os principais pontos da abordagem e tratamento dos pacientes com AIT.
Tirofiban no AVC isquêmico
Terapias de reperfusão para AVC isquêmico são o padrão ouro de tratamento agudo. A trombectomia mecânica é efetiva em casos com oclusão proximal de vasos, mas ainda pouco disponível. A trombólise endovenosa é mais acessível, porém é limitada pela janela terapêutica. O estudo RESCUE BT2, publicado no New England Journal of Medicine em junho de 2023, avaliou o papel do antiagregante tirofiban no tratamento agudo de AVC isquêmico sem oclusão proximal e sem resposta à trombólise endovenosa. Esse tópico revisa os antiagregantes no AVC e traz os resultados do estudo.
Diretriz de AVC Hemorrágico de 2022
A American Stroke Association lançou em maio de 2022 as novas diretrizes de manejo do acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCh) espontâneo. A diretriz organiza pontos consolidados e traz recomendações baseadas em resultados de estudos recentes. Confira os tópicos abaixo.
Caso Clínico #12
Homem de 50 anos com queixa de tontura de início súbito há 1 dia.