Dermatite de Estase
Dermatite de estase é uma doença inflamatória comum, que acomete os membros inferiores. Pode haver dificuldade para diferenciar de outras condições como as infecções de pele. Este "síndrome e cenários" revisa a condição e seu tratamento.
O que é a dermatite de estase?
A dermatite de estase (DE) é um processo inflamatório cutâneo causado principalmente por insuficiência venosa crônica. Também é conhecida como eczema de estase ou dermatite gravitacional.

A dermatite de estase é mais comum em pacientes de mais idade, estando presente em 6% da população com mais de 65 anos [1].
Além da idade, outros fatores de risco para desenvolver dermatite de estase são insuficiência cardíaca, obesidade, gestação e história familiar de doença venosa.
Diagnóstico
O diagnóstico da DE é clínico, mas a biópsia pode auxiliar em casos de dúvidas. A dificuldade de cicatrização é um dos motivos para se realizar poucas biópsias nesse cenário.
A apresentação mais comum é o eritema em membros inferiores, sendo a região do maléolo medial a mais acometida. A lesão pode se estender até os pés. A pele também pode apresentar descamação, ressecamento e prurido.
A diferenciação entre dermatite de estase e infecções de pele é difícil, especialmente quando existe eritema. Até 33% dos pacientes diagnosticados com celulite ou erisipela possuem outra patologia associada. Entre elas, a mais comum é a dermatite de estase.
O predomínio bilateral é mais comum na DE, enquanto as infecções cutâneas primárias tendem a ser unilaterais. Outra pista é a cronicidade da dermatite de estase, muitas vezes confundida com celulite de repetição. Veja outras diferenças na tabela 1.

O ressecamento da pele e o prurido facilitam as infecções secundárias. Nessa situação, a dor pode ser mais intensa e as lesões, assimétricas entre os membros. O tratamento deve ser direcionado à DE e à infecção.
A dermatite de contato é um diagnóstico diferencial, mas pode ocorrer em associação à DE. Algumas pomadas usadas no tratamento da DE podem desencadear a dermatite de contato.
Cronicidade e complicações
Alguns sinais acontecem em fases crônicas da doença. A liquenificação é um espessamento cutâneo, causado pela coceira [2]. Os pacientes podem apresentar hiperpigmentação local, em decorrência dos depósitos de hemossiderina na pele. As úlceras venosas são possíveis manifestações na DE crônica.
Uma complicação de dermatite de estase é a lipodermatoesclerose (veja aqui um exemplo de lipodermatoesclerose), uma paniculite fibrosante que pode evoluir com deformidade da pele e tecido subcutâneo. A aparência da lesão se assemelha a uma garrafa de champagne invertida na perna. Ela demora semanas a meses para surgir e geralmente é bilateral.
A acroangiodermatite, também chamada de pseudo-sarcoma de Kaposi, é outra complicação da doença [3]. Ocorre por hiperplasia vascular secundária a aumento da pressão venosa. Pode se apresentar como máculas, pápulas ou placas purpúricas no dorso dos pés e maléolos. A biópsia da lesão pode ser necessária para diferenciar do sarcoma de Kaposi.
Tratamento
O tratamento tem dois pilares: resolver o processo inflamatório atual e abordar a estase venosa.
A inflamação pode ser tratada com corticoides tópicos de média e alta potência, que também auxiliam no controle do prurido. Exemplos de corticoide possíveis são: valerato de betametasona 0,1% e valerato de hidrocortisona 0,2%. Podem ser mantidos por 7 a 14 dias. O uso prolongado está associado a atrofia local e efeitos sistêmicos. A xerose cutânea pode ser tratada com hidratantes.
A estase é tratada principalmente com compressão média (30 mmHg) ou alta (60 mmHg), utilizando meias ou ataduras. O paciente deve ser avisado que a elasticidade da meia reduz com o tempo. A terapia de compressão é contraindicada em pacientes com doença arterial periférica [4].
Outra opção para o manejo da estase é a bota de Unna. É uma atadura de compressão que também contém óxido zinco. Pode aliviar os sintomas inflamatórios locais. O uso é mais estudado em pacientes com úlceras venosas.
No paciente com DE também devem ser pesquisadas e tratadas outras causas de edema, como insuficiência cardíaca e medicamentos.
Aproveite e leia:
Doença Venosa Crônica: Avaliação e Manejo Clínico
A doença venosa crônica tem manifestações que vão de alterações assintomáticas superficiais até úlceras venosas. Essa condição reduz a funcionalidade e a qualidade de vida dos pacientes. Este tópico repercute os principais pontos de uma revisão de dezembro de 2024 do New England Journal of Medicine, com enfoque no manejo não-cirúrgico desta condição.
Betabloqueador Após Infarto Agudo do Miocárdio
A prescrição de betabloqueadores após infarto agudo do miocárdio (IAM) é uma prática baseada em evidências da década de 80 de diminuição de mortalidade. O ensaio clínico randomizado REDUCE-AMI, publicado em abril de 2024 no New England Journal of Medicine, avaliou o uso de betabloqueadores no pós-infarto em pacientes com fração de ejeção preservada. Esse tópico traz os resultados do estudo e discute o tema.
Asma e Uso de Beta Agonistas de Curta Ação
É comum os pacientes recorrerem a beta agonistas de curta ação (SABA) em uma crise de asma. Porém, confiar apenas nos SABA não é uma boa opção. Um estudo apresentado na conferência da American Thoracic Society e publicado no New England Journal of Medicine acrescentou evidências nesse tema. Vamos ver os achados e rever o tratamento inicial de asma.
Investigação e Tratamento de Hiperplasia Prostática Benigna
A Associação Canadense de Urologia lançou em agosto de 2022 uma nova diretriz de hiperplasia prostática benigna (HPB) e sintomas associados, os chamados LUTS (Lower Urinary Tract Symptoms). Esse documento traz conceitos e recomendações semelhantes às diretrizes europeia, também de 2022, e dos Estados Unidos, de 2021.
Gabapentinoides, Dor Neuropática e Eventos Adversos
Os gabapentinoides (pregabalina e gabapentina) são anticonvulsivantes amplamente utilizados para a dor neuropática. Vistos como drogas seguras, a prescrição dessas medicações têm aumentado progressivamente. Estudo publicado em julho no American Journal of Kidney Diseases (AJKD) investigou a associação de gabapentinoides e eventos adversos em idosos com doença renal crônica. Vamos ver os resultados e revisar a evidência sobre essas medicações.