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Febre Maculosa Brasileira

Criado em: 01 de Agosto de 2022 Autor: Pedro Rafael Del Santo Magno

Em junho de 2022, a Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério da saúde lançou um manual chamado: “Febre Maculosa - Aspectos epidemiológicos, clínicos e ambientais”, trazendo em 162 páginas vários conceitos importantes sobre essa doença pouco mencionada, indo da investigação clínica até como fazer a notificação e prevenção dessa doença [1]. Para revisarmos os principais conceitos, trouxemos a segunda seção deste manual: Aspectos clínicos, diagnóstico e tratamento

O que é febre maculosa brasileira (FMB)

Nos humanos, a FMB é adquirida pela picada do carrapato infectado com riquétsia. A principal espécie é Rickettsia rickettsii, um cocobacilo gram negativo, intracelular obrigatório. Esse agente também é responsável pela febre maculosa das Montanhas Rochosas, presente na América do Norte, uma condição com quadro clínico e prognóstico diferentes da FMB.

Existem três perfis epidemiológicos da FMB:

  • A FMB predominante na região sudeste, onde a Rickettsia rickettsii é o agente etiológico. O principal fator de exposição é o contato com o carrapato presente em animais de regiões rurais, como a capivara. A maioria dos casos ocorre entre junho e novembro, devido ao ciclo de vida do carrapato responsável por esse perfil.
  • A FMB da região metropolitana de São Paulo também tem como agente etiológico R. rickettsii . Nesse perfil, a fonte transmissora são cães e gatos que circulam na Mata Atlântica e são parasitados por carrapatos.
  • Outro perfil é causado pela Rickettsia parkeri no nordeste. Relacionado ao contato com animais como cães que circulam na Mata Atlântica, apresenta quadro mais leve do que o perfil anterior.

Quadro clínico

A incubação é de 2 a 14 dias e a clínica é variável. A fase inicial é leve em forma de síndrome febril inespecífica ou síndrome febril exantemática. Além da febre, essa fase pode apresentar cefaleia, mialgia, artralgia, prostração, náuseas e vômitos.

Os sintomas cutâneos surgem geralmente após o quinto dia de doença, na forma de exantema maculopapular, não pruriginoso, com lesões de 1 e 5 mm, acometendo inicialmente as extremidades (punhos e tornozelos, palmas das mãos e planta dos pés). O exantema pode evoluir para petéquias e sufusões hemorrágicas, conforme a gravidade da doença. Necrose de extremidades é uma manifestação descrita. Em apresentações fulminantes (com óbito em menos de 6 dias de sintomas), o quadro cutâneo pode nem ter tempo para aparecer.

Sintomas leves podem evoluir rapidamente para quadros graves, como síndrome febril hemorrágica ou íctero-hemorrágica. Essa forma pode apresentar disfunção orgânica múltipla, hemorragias, icterícia e choque.

A Rickettsia parkeri, responsável por um quadro mais leve, pode apresentar a escara de inoculação do agente e linfonodomegalia regional.

Exames e diagnóstico

O laboratório pode revelar leucopenia ou leucocitose e plaquetopenia. Além dos exames que indicam as disfunções orgânicas, vale marcar a presença de elevação de creatinoquinase (CPK) e hiponatremia.

Para o diagnóstico definitivo, os testes disponíveis não trazem resultados específicos de modo ágil. O tratamento direcionado deve ser iniciado diante da clínica e antecedente epidemiológico sugestivos, sem necessidade de confirmação diagnóstica prévia.

O primeiro método de diagnóstico é a sorologia pareada. Essa técnica envolve a coleta de IgG na fase aguda, pareando o resultado com outra amostra no mínimo 14 dias depois (veja exemplo na tabela 1). Se houver um aumento da titulação em 4 vezes ou mais, é considerado um caso confirmado. O IgM pode ser colhido mas é limitado em sensibilidade e especificidade.

Tabela 1
Exemplos de interpretação de resultados de reação de imunofluorescência indireta para febre maculosa em amostras pareadas de soro
Exemplos de interpretação de resultados de reação de imunofluorescência indireta para febre maculosa em amostras pareadas de soro

Nas fases agudas da doença, quando a sorologia pode ainda não ser útil, os outros métodos diagnósticos são:

  • Isolamento direto. Limitado pela técnica que envolve congelamento da amostra em tempo hábil, o que diminui seu valor preditivo negativo.
  • PCR do agente. Possui boa sensibilidade e especificidade, porém não é amplamente disponível.

Ambos os testes podem ser utilizados no sangue, amostra de pele ou vísceras.

Tratamento

Iniciar o tratamento diante da suspeita, idealmente antes do quinto dia de sintomas, é considerada a principal medida na redução do risco de formas graves. Um obstáculo é que o exantema, achado característicos da doença, pode não estar presente antes do quinto dia. Mesmo na ausência de lesão de pele, mas com a presença de fatores epidemiológicos como contato com carrapato, deve-se indicar o tratamento.

As únicas drogas eficazes contra a R. rickettsii são a doxiciclina e o cloranfenicol (veja tabela 2) Apesar da doxiciclina ser superior, a ausência de apresentação intravenosa no Brasil faz com que o uso de cloranfenicol seja mais comum em pacientes com a forma grave.

Tabela 2
Antibioticoterapia recomendada em adultos
Antibioticoterapia recomendada em adultos

Não se preconiza profilaxia para FMB após contato com carrapato.

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