Osteoartrite de Joelhos
Dor é a principal manifestação de osteoartrite, podendo levar a incapacidade, limitação funcional e transtornos de humor. Este tópico revisa o diagnóstico e as opções de tratamento dessa condição.
Diagnóstico
A osteoartrite (OA) é a principal causa de artrite em adultos e o joelho é a articulação mais afetada [1]. Outras articulações comuns são as mãos e os quadris. A doença acomete principalmente a cartilagem articular, mas todos os componentes articulares podem ser afetados.
Idade avançada é o principal fator de risco para o desenvolvimento de OA. Outros fatores risco incluem obesidade, sexo feminino, desalinhamentos e traumas articulares [2].
A manifestação mais comum é a artralgia de padrão mecânico. A dor é inicialmente provocada pelo uso da articulação, com melhora ao repouso. Com o tempo, aumenta em frequência e intensidade. Rigidez articular pode ocorrer, com duração de até 30 minutos. Restrição de movimentos e sinais flogísticos discretos, como aumento do volume e temperatura local, são possíveis [3].
Pacientes com OA de joelhos, principalmente sem tratamento adequado, podem evoluir com limitações para atividades de vida diária, fadiga, alterações de sono e humor [3].
O diagnóstico de OA periférica (mãos, joelhos ou quadril) é clínico e pode ser estabelecido na presença de história e fatores de risco característicos [3]. Em muitos casos de OA, existe dissociação entre a clínica e os achados de imagem. Na presença de história e apresentação típica, não há necessidade de testes adicionais para o diagnóstico [4].
Alguns critérios diagnósticos e classificatórios foram propostos, como o do American College of Rheumatology (ACR) em 1986 e da European Alliance of Associations for Rheumatology (EULAR), em 2020 [2, 5]. Uma sugestão prática para o diagnóstico é aliar três fatores [4, 6]:
- Artralgia mecânica persistente (acima de um mês) em uma ou poucas articulações
- Idade maior ou igual a 45 anos
- Rigidez matinal por até 30 minutos
Exames complementares devem ser solicitados na suspeita de diagnósticos diferenciais, especialmente quando existem manifestações atípicas, como sintomas sistêmicos ou sinais flogísticos importantes. A tabela 1 agrupa os diagnósticos diferenciais e suas características.
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Os exames mais usados na elucidação diagnóstica da artralgia de joelhos são os exames de imagem (radiografia, ultrassonografia e ressonância magnética). A análise do líquido articular é reservada na suspeita de alguns diagnósticos diferenciais, particularmente monoartrites agudas.
Terapia inicial
A avaliação inicial de um paciente com OA de joelhos inclui a gradação da dor e o impacto nas atividades diárias, o nível de engajamento no autocuidado e a avaliação do humor [7].
Não existem terapias modificadoras da doença na OA [8]. O objetivo dos tratamentos existentes é melhorar a funcionalidade, a amplitude de movimento e a força, além de prevenir quedas. Existem opções não farmacológicas, farmacológicas e cirúrgicas.
As terapias não farmacológicas contribuem no controle de dor e na preservação de funcionalidade a longo prazo [3, 7, 9]. Existem três pilares do tratamento não farmacológico da OA de joelhos: educação do paciente, atividade física e controle de peso [3].
A atividade física e exercícios resistidos devem ser recomendados a todos os pacientes [9, 10]. Não existe consenso sobre a melhor modalidade de exercício no tratamento da OA [7]. A recomendação deve ser individualizada e compartilhada com o paciente [10]. Indivíduos com dor não controlada podem se beneficiar de atividades de menor impacto, como exercícios na água ou bicicleta ergométrica.
Os pacientes devem ser avaliados quanto à necessidade de órteses e bengalas, especialmente se houver instabilidade articular ou acometimento assimétrico de OA de joelhos [7, 9].
Quanto à terapia farmacológica, os anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) tópicos são a primeira escolha para a OA de joelhos. Eles apresentaram controle de dor equivalente, mas com menos efeitos adversos na comparação com AINE oral. Um estudo publicado no Journal of the American Heart Association observou que pacientes que usam AINEs tópicos tiveram um risco 36% menor de eventos cardiovasculares em comparação com aqueles que usam AINEs orais [11]. Um exemplo de AINE tópico é o diclofenaco em gel [3, 9, 10, 12].
A capsaicina modula fibras nociceptivas e também pode ser usada localmente. O paciente deve ser instruído a higienizar as mãos após o uso, pelo risco de irritação ocular [9].
Terapias adicionais
Pacientes com dor intensa ou OA generalizada se beneficiam de terapias sistêmicas. A primeira escolha deve ser uma analgesia simples — AINE, dipirona ou paracetamol [9]. A terapia deve ser adaptada conforme as comorbidades e deve ser mantida na menor dose e por tempo curto para evitar eventos adversos [3, 7].
Se a dor persistir com analgesia comum, uma opção de segunda linha é o tramadol, especialmente em dores intensas e quando AINEs são contraindicados [3]. O benefício do tramadol parece ser pequeno e existem preocupações quanto a eventos adversos gastrointestinais e neurológicos [7, 13]. Outros opioides não parecem ter benefício na OA e não são recomendados [14].
A duloxetina pode ser usada como adjuvante no controle de dor, especialmente em pacientes com depressão ou dor em outros locais [3, 7, 9]. A tabela 2 resume as principais recomendações de tratamento farmacológico e não farmacológico na OA de joelhos.
Intervenções
Terapias intra-articulares com possível benefício incluem corticoides e ácido hialurônico. Os corticoides intra-articulares reduzem a dor por até um mês. Podem ser usados em períodos específicos, nos quais se espera agudização dos sintomas [10]. Não devem ser repetidos mais do que três vezes ao ano, pelo risco de piora da degeneração articular [9]. Um estudo sugeriu que o uso de corticoide intramuscular foi não inferior ao corticoide intra-articular após oito semanas da aplicação [15].
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As evidências para ácido hialurônico intra-articular são menos consensuais. Ensaios clínicos rigorosos indicam que o benefício parece ser pequeno em relação ao placebo. Pode ser tentado em casos refratários [9, 10, 16].
A artroplastia de joelho está associada a bom controle da dor e melhora funcional. Deve ser reservada para casos em que as terapias anteriores foram ineficazes [3, 9]. Veja mais sobre o momento ideal para a artroplastia em "Artroplastia para Osteoartrite de Joelho e Quadril".
Cirurgias menos invasivas, como a artroscopia para meniscectomia, lavagem e desbridamento articular, não são recomendadas [3].
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