Atualização sobre Profilaxia Pré-exposição (PrEP) Semestral para HIV
O lenacapavir é um antirretroviral subcutâneo semestral e foi testado como profilaxia pré-exposição para mulheres cis no estudo PURPOSE, publicado em julho de 2024 no New England Journal of Medicine. Esse tópico aborda as indicações para uso e os pontos principais do estudo [1].
Este tópico é uma atualização sobre os medicamentos disponíveis para profilaxia pré-exposição para infecção pelo vírus HIV. Para mais detalhes sobre o assunto, consulte o tópico "PrEP e PEP - Profilaxia Medicamentosa para Infecções Sexualmente Transmissíveis".
Antirretrovirais parenterais e PrEP para mulheres
A profilaxia pré-exposição (PrEP) para HIV é uma estratégia de prevenção bem estabelecida para homens que fazem sexo com homens e mulheres trans [2]. O esquema de tratamento mais utilizado atualmente é a combinação de entricitabina e tenofovir por via oral e está disponível no SUS e em farmácias [3].
Estudos de PrEP oral em mulheres cis não demonstraram os mesmos níveis de proteção das outras populações. Uma possível causa dessa diferença é a dificuldade na adesão, identificada em estudos que faziam dosagem sérica das drogas [4].
Nos últimos anos, surgiram antirretrovirais parenterais de longa duração que facilitam a adesão. Um deles é o cabotegravir, da classe dos inibidores de protease, como o dolutegravir, que foi estudado tanto para tratamento de HIV quanto para PrEP [5]. É aplicado de forma intramuscular a cada dois meses e já foi aprovado pela ANVISA, mas ainda não está disponível pelo SUS. O lenacapavir é outro antirretroviral parenteral, subcutâneo e de aplicação a cada seis meses. Faz parte de uma nova classe de antirretrovirais chamada de inibidor de capsídeo, já testada para tratamento de pessoas infectadas por HIV, com resultados importantes na redução da carga viral em casos multidroga resistentes [6]. O lenacapavir ainda não foi avaliado pela ANVISA.
Considerando a baixa adesão da PrEP oral em mulheres cis como fator para o desempenho inferior nessa população, o lenacapavir foi testado com esse intuito nessa população.
O estudo PURPOSE
O estudo foi duplo cego, randomizado, controlado e incluiu 5338 mulheres jovens e adolescentes da África do Sul e Uganda. As pacientes foram randomizadas em três grupos: lenacapavir; entricitabina com tenofovir desoproxila (TDF); e entricitabina com tenofovir alafenamida (TAF). O desfecho primário foi incidência de HIV. Os pacientes foram acompanhados por dois anos.
No grupo lenacapavir, composto de 2134 participantes, nenhuma infecção por HIV foi detectada. No grupo entricitabina com tenofovir desoproxila (TDF), 16 pacientes dentre 1068 se infectaram, com incidência de 2,02 a cada 100 pessoas-ano. Já no grupo entricitabina com tenofovir alafenamida (TAF), 39 dentre 2136 se infectaram, com incidência de 1,69 a cada 100 pessoas-ano. Esses valores são semelhantes à incidência de HIV na população estudada, estimada em 2,41 pessoas-ano.
Os efeitos adversos foram similares entre os dois grupos, mas no grupo lenacapavir houve maior taxa de reações locais associados à injeção comparada ao placebo (68,8% vs 34,9%).
Dois pontos destacam-se no estudo. Primeiro, a eficácia de um medicamento de longa duração subcutânea para PrEP, uma vantagem em relação à PrEP oral diária com relação à adesão. Em relação ao cabotegravir, também parenteral, o lenacapavir tem um benefício de tempo (seis meses contra dois meses) e de via (subcutânea contra intramuscular). Um segundo ponto é a capacidade de prevenir infecções em um grupo cuja eficácia da PrEP oral é inconsistente.
Aproveite e leia:
PrEP e PEP - Profilaxia Medicamentosa para Infecções Sexualmente Transmissíveis
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