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Atualização de Asma: GINA 2024

Criado em: 09 de Dezembro de 2024 Autor: Pedro Rafael Del Santo Magno Revisor: João Mendes Vasconcelos

Anualmente é publicada a diretriz do Global Initiative for Asthma (GINA), um programa internacional sobre prevenção, diagnóstico e tratamento do paciente com asma. O GINA 2023 foi coberto no Guia em uma revisão que pode ser conferida em "Asma - GINA 2023". Este tópico traz as atualizações do GINA 2024 [1].

Diagnóstico de asma

O diagnóstico de asma é feito com um quadro clínico compatível associado à evidência de obstrução variável de fluxo aéreo. Os sintomas principais são dispneia, opressão torácica, tosse e sibilância. Tanto os sintomas quanto a obstrução ao fluxo de ar podem variar com o tempo. Essas variações podem ser desencadeadas por exercícios, alérgenos, mudanças na temperatura e infecções respiratórias.

Os sintomas de asma não são específicos. Para maior certeza diagnóstica, a diretriz recomenda que todos os pacientes realizem um teste para detecção de obstrução variável do fluxo de ar. O exame deve ser realizado preferencialmente antes do início do corticoide inalatório, pois a medicação pode normalizar a prova broncodilatadora.

A evidência de obstrução variável ao fluxo de ar é feita com a espirometria, analisando se houve ou não resposta ao broncodilatador. É considerado resposta ao broncodilatador um aumento do VEF1 ou da CVF de 12% e 200 ml em relação ao valor inicial [2]. A American Thoracic Society (ATS) e a European Respiratory Society (ERS) já haviam acrescentado o CVF no critério diagnóstico, porém consideram como significativa uma variação de 10% comparando com os valores preditos e não em relação aos valores pré-broncodilatador [3]. O GINA afirma que irá fazer essa mudança de corte quando mais dados sobre mudança de desfechos forem publicados.

O GINA 2024 reconhece que muitos locais não têm acesso à espirometria em tempo hábil. Uma alternativa para esse cenário é a avaliação do pico de fluxo expiratório (PFE, também conhecido como peak flow). A resposta ao broncodilatador é detectada através de um incremento no PFE de 20% do basal. A medida deve ser feita 10 a 15 minutos depois da aplicação de 200 a 400 mcg de salbutamol.

Outra maneira de detectar que existe uma variabilidade na obstrução ao fluxo de ar é por medidas seriadas do PFE. O paciente é orientado a medir duas vezes por dia durante duas semanas. O resultado é positivo se ocorrer uma variação média maior que 10% durante o dia. 

Tabela 1
Como realizar o diagnóstico de asma
Como realizar o diagnóstico de asma

Outras maneiras de realizar o diagnóstico de asma estão na tabela 1

Asma variante tosse

Tosse pode ser o único sintoma da asma. Esse fenótipo é denominado de asma variante tosse. A espirometria geralmente é normal, demonstrando variabilidade de obstrução ao fluxo de ar apenas em testes provocatórios.

Diagnosticar asma variante tosse é difícil, pois existem muitos diagnósticos diferenciais e poucos dados clínicos para compor o diagnóstico. Outras situações podem se apresentar isoladamente como tosse subaguda (> 3 semanas) ou crônica (> 8 semanas) com radiografia sem achados relevantes: 

  • Síndrome da tosse de via aérea superior por gotejamento posterior
  • Tosse induzida por medicamentos
  • Doença do refluxo gastroesofágico
  • Sinusite crônica
  • Tosse pós-infecciosa
  • Obstrução laríngea induzível
  • Bronquite eosinofílica (também chamada de bronquite eosinofílica não-asmática)

A asma variante tosse e a síndrome da tosse de via aérea superior são as causas de tosse crônica mais comuns, ficando na frente de doença do refluxo e tosse pós-infecciosa ([4]. 

Dois outros exames podem auxiliar no diagnóstico de asma variante tosse: a contagem de eosinófilos na análise de escarro e o aumento da fração expirada de óxido nítrico (FeNO)

A bronquite eosinofílica (também chamada de bronquite eosinofílica não-asmática) é uma doença que se apresenta como tosse crônica, espirometria normal, aumento de eosinófilos no escarro e aumento de FeNO [5]. Ela é um dos principais diagnósticos diferenciais na asma variante tosse, diferenciando-se pela ausência de hiperresponsividade da via aérea. A maneira de diferenciar asma de bronquite eosinofílica é através dos testes de variabilidade ao fluxo de ar e de hiperresponsividade da via aérea, principalmente o teste de broncoprovocação [6,7]. Ambas as condições respondem à corticoide, porém não há recomendação de broncodilatadores na bronquite eosinofílica.

Se o paciente não utilizar corticoide inalatório, 30 a 40% dos pacientes com asma variante tosse migram para o fenótipo de asma comum, com sibilância e alteração na espirometria [8]. O tratamento é similar à asma.

Mudança no tratamento inicial

O tratamento da asma pode seguir por duas vias. A via preferencial envolve o uso de formoterol, enquanto a via alternativa não utiliza formoterol. Os dois caminhos são divididos em níveis que representam escalonamento da terapia, também conhecidos como steps (do inglês, degraus) (fluxograma 1).

Fluxograma 1
Como iniciar o tratamento de asma
Como iniciar o tratamento de asma

Uma mudança do GINA 2024 foi na via do formoterol, em relação aos critérios para se iniciar o tratamento já no Step 3. Nesse cenário, inicia-se a terapia com a estratégia MART (maintenance-and-reliever therapy). Na MART, o tratamento de manutenção e o de alívio são realizados com corticoide inalatório e formoterol em dose baixa.

O GINA sugere iniciar o tratamento da asma pelo Step 3 em pacientes com as seguintes características:

  • Sintomas na maioria dos dias
  • Tabagismo atual
  • Baixa capacidade pulmonar (como VEF1 < 60% do predito)
  • Exacerbação grave recente ou histórico de exacerbações ameaçadora à vida
  • Percepção prejudicada de broncoconstrição (por exemplo, baixa função pulmonar inicial, mas poucos sintomas)
  • Hiperresponsividade grave das vias aéreas [9
  • Exposição atual a um gatilho alérgico

Na via alternativa, houve uma mudança para se iniciar no Step 1 (apenas terapia de resgate) ou no Step 2 (uso de corticoide inalatório contínuo em baixa dose com resgate). Antes se iniciava a terapia no Step 2 em pacientes que apresentavam sintomas de asma mais de duas vezes por mês. A diretriz modificou a recomendação para mais de duas vezes na semana. Essa mudança ocorre porque o paciente anterior tinha poucos sintomas ao mês, e por isso teria dificuldade de adesão a um medicamento diário.

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