Herpes Zoster: Diagnóstico, Tratamento e Prevenção
Herpes zoster é a reativação da infecção latente pelo vírus varicela-zoster, uma condição mais comum em idosos e imunossuprimidos. Uma publicação recente trouxe novos dados sobre internamentos por herpes zoster e motivou a discussão sobre a doença no Guia [1]. Este tópico aborda o diagnóstico, tratamento e prevenção dessa condição.
Manifestações e fatores de risco
Herpes zoster (HZ) é a reativação de uma infecção latente pelo vírus varicela-zoster. O principal fator de risco para a doença é a idade avançada. Existe um claro aumento de incidência após os 50 anos [2]. Estima-se que até metade das pessoas com mais de 85 anos apresentará um episódio de HZ, caso não sejam vacinadas [3].
Pacientes imunossuprimidos são mais suscetíveis à doença, especialmente aqueles com neoplasias hematológicas ou transplante de células-tronco hematopoiéticas [4]. Outros fatores de risco estão listados na tabela 1. Um estudo francês mostrou aumento do tempo de internação por herpes zoster em pacientes mais idosos ou com imunossupressão [1]. Veja mais sobre infecções associadas a corticoides sistêmicos no tópico "Infecções Oportunistas Associadas a Corticoides Sistêmicos".
O achado dermatológico clássico do HZ é um exantema vesicular unilateral, que geralmente se distribui em um ou dois dermátomos contíguos. Em pessoas imunocompetentes, as vesículas se tornam crostosas em sete a dez dias.
O sintoma mais comum é dor local que ocorre por neurite aguda causada pelo vírus. Em muitos casos, a dor e prurido local precedem as lesões cutâneas. Sintomas sistêmicos inespecíficos, como mal-estar e cefaleia, também podem ocorrer. O zoster sine herpete é uma forma de reativação sem manifestações cutâneas, apenas com dor por neurite aguda. O diagnóstico dessa apresentação de HZ é mais desafiador e depende da detecção do vírus em amostra de sangue com reação em cadeia de polimerase (PCR).
Outras manifestações menos típicas incluem o herpes zoster oftálmico, meningite asséptica, mielite transversa e encefalite. A tabela 2 agrupa as definições dessas condições.
- O HZ é considerado complicado em situações específicas, que incluem:
- Pacientes imunocomprometidos
- Acometimento de mais de dois dermátomos
- Acometimento neurológico ou oftálmico
- Acometimento visceral
Pacientes com HZ complicado tem particularidades no tratamento (tabela 3 e seção “Diagnóstico e Tratamento”).
A neuralgia pós-herpética é uma complicação tardia, que pode acometer até metade dos pacientes, mesmo entre indivíduos imunocompetentes [3,5]. Define-se como uma dor que persiste por mais de 90 dias após o início do exantema, podendo envolver alodinia e hiperalgesia. Alguns casos evoluem com anestesia dolorosa, com perda de sensibilidade profunda associada a dor contínua [6].
Diagnóstico e Tratamento
Herpes zoster costuma ser diagnosticado clinicamente sem exames complementares quando há manifestações típicas - exantema vesicular unilateral e dor em faixa, por exemplo. Em pacientes com manifestações atípicas, especialmente com imunossupressão, podem ser necessários exames para confirmação. A detecção do vírus por PCR pode ser feita em material coletado das vesículas ou de outros locais, a depender do acometimento.
Na suspeita de meningite pelo vírus, a dosagem de anticorpos IgG anti-vírus varicela-zoster no líquido cefalorraquidiano pode ser realizada [3,7]. Além da detecção de anticorpos no liquor, a quantidade de anticorpos nesse local pode ser comparada com os anticorpos séricos na razão soro/liquor. Uma razão reduzida sugere atividade viral no sistema nervoso central. PCR para o vírus também pode ser feito no liquor.
O principal diagnóstico diferencial é com herpes simples [5]. Lesões de herpes simples podem ocorrer em locais atípicos em pacientes que fazem esportes de contato e artes marciais. Saiba mais no tópico "Herpes Simples".
O tratamento com antivirais objetiva reduzir o tempo de atividade da doença e da intensidade dos sintomas [8,9]. Idealmente, o antiviral deve ser iniciado em até 72 horas da primeira lesão em pacientes imunocompetentes. Pode-se considerar o início do tratamento após 72 horas em pacientes com surgimento de novas lesões, com complicações ou com alto risco de complicações (por exemplo, maiores que 65 anos com acometimento do dermátomo V1). A tabela 3 agrupa as opções terapêuticas. Não há recomendação para o uso de antivirais tópicos [5].
Pacientes imunocomprometidos ou com complicações neurológicas graves devem receber tratamento intravenoso em regime hospitalar. A avaliação oftalmológica deve ser realizada em pacientes com HZ oftálmico [5]. Nesses casos, tratamentos tópicos ou intraoculares podem ser necessários.
Na fase aguda da doença, o controle da dor pode ser feito com analgésicos comuns e anti-inflamatórios não esteroides. Em casos de dor intensa, opioides fracos, como o tramadol, podem ser utilizados.
O tratamento da neuralgia pós-herpética pode ser desafiador. A combinação de medicamentos é mais efetiva no controle da dor, mas aumenta o risco de eventos adversos em comparação à monoterapia, especialmente em idosos [10]. Saiba mais sobre prescrição segura em idosos neste "Critérios de Beers de 2023 e Prescrição Segura em Idosos".
As opções para manejo da neuralgia pós-herpética incluem agentes tópicos (lidocaína e capsaicina), gabapentinoides, opioides e tricíclicos (tabela 4) [11,12]. A escolha depende da gravidade da dor, das condições clínicas e das contraindicações de cada paciente. O uso de gabapentinoides na dor neuropática foi revisado em "Gabapentinoides, Dor Neuropática e Eventos Adversos".
Prevenção
A vacinação contra o HZ é a principal forma de prevenção. Atualmente está disponível no Brasil a vacina recombinante inativada (Shingrix ®). A eficácia para prevenção do HZ é de mais de 90% em alguns estudos [13]. A vacina também pode reduzir o risco de neuralgia pós-herpética [6,14]. As recomendações de vacinação estão dispostas na tabela 5. A contra-indicação absoluta à vacina é alergia conhecida aos componentes e pacientes imunocomprometidos podem ser vacinados conforme a tabela 5.
A vacina inativada pode ser usada mesmo em pacientes com episódio prévio de HZ ou que receberam outras imunizações para a doença [15]. Nesse cenário, devem-se observar intervalos mínimos de:
- Seis meses após um episódio de HZ.
- Dois meses após outra imunização para HZ.
Pacientes com HZ devem ser orientados sobre medidas de isolamento, devido ao risco de disseminação do vírus. Em indivíduos imunocompetentes, recomenda-se a adoção de precauções de contato, mantendo as lesões cobertas enquanto estiverem ativas. Por outro lado, aqueles imunocomprometidos devem manter isolamento de contato e respiratório [16]. O isolamento pode ser encerrado após resolução das vesículas, com a formação de crostas [3].
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