Gabapentinoides, Dor Neuropática e Eventos Adversos

Criado em: 15 de Agosto de 2022 Autor: João Mendes Vasconcelos

Os gabapentinoides (pregabalina e gabapentina) são anticonvulsivantes amplamente utilizados para a dor neuropática. Vistos como drogas seguras, a prescrição dessas medicações têm aumentado progressivamente. Estudo publicado em julho no American Journal of Kidney Diseases (AJKD) investigou a associação de gabapentinoides e eventos adversos em idosos com doença renal crônica [1]. Vamos ver os resultados e revisar a evidência sobre essas medicações.

O que são gabapentinoides?

Pregabalina e gabapentina são gabapentinoides, anticonvulsivantes que atuam no canal de cálcio dependente de voltagem. Assim como outros antiepilépticos, essas medicações têm efeito analgésico, possivelmente através da redução da excitabilidade dos neurônios.

A pregabalina está disponível em várias dosagens, sendo comumente prescrita em comprimido ou cápsula de 75 ou 150 mg. A dose inicial habitual é de 75 mg de 12/12h com incrementos a cada 2 a 4 semanas. A máxima é de até 600 mg/dia. A gabapentina está disponível nas dosagens de 300, 400 e 600 mg. Pelo efeito sedativo, é comum ser iniciada na dose de 300 mg à noite. A dose efetiva varia de 900 a 3600 mg/dia dividido em três tomadas por dia.

Gabapentina e pregabalina precisam de ajuste de dose para a função renal.

Quais são as evidências de gabapentinoides para dor?

As evidências apoiam o uso de gabapentinoides para a dor neuropática. O número necessário para tratar (NNT) para reduzir 50% da dor é de 7,7 para pregabalina e 7,2 para gabapentina segundo essa revisão sistemática [2].

A pregabalina também pode ser utilizada para fibromialgia, conforme essa revisão [3]. A gabapentina foi primariamente estudada para neuralgia pós herpética e neuropatia diabética [4]. O efeito sobre outras causas de dor é incerto.

A pregabalina pode reduzir o uso de morfina no pós operatório, porém ao custo de eventos adversos graves [5].

Quais são os efeitos adversos de gabapentinoides?

O artigo que motivou o tópico é uma coorte populacional 74 mil idosos com doença renal crônica e um novo gabapentinoide prescrito. Os pesquisadores compararam doses altas contra doses baixas dessas medicações. Os resultados mostraram associação de doses altas de gabapentinoides com encefalopatia, quedas, fraturas ou hospitalização por depressão respiratória. Os achados reforçam a noção de que essa classe de drogas pode não ser tão benigna quanto se acha.

Um estudo epidemiológico sueco encontrou associação entre o uso de gabapentinoides e ideação suicida, overdose não intencional, lesões corporais e acidentes de trânsito [6]. A prescrição conjunta com opióides e medicações sedativas (anti-histamínicos, benzodiazepínicos) deve ser cautelosa, pois o risco de depressão respiratória é aumentado [7]. O Food and Drug Administration (FDA) emitiu um alerta sobre essa situação.

Um efeito colateral pouco comentado é o edema. Esse estudo do Canadá avaliou 260 mil idosos com dor lombar ou ciatalgia novas, dos quais 8 mil tiveram um gabapentinoide prescrito [8]. Nos 90 dias após o diagnóstico, pacientes que receberam gabapentinoides apresentaram maior chance de terem um diurético prescrito. O trabalho mostra que a falta de percepção desse efeito colateral leva a cascata medicamentosa, situação em que uma droga é utilizada para tratar o evento adverso de outra. O uso dessas medicações para tratar dor lombar e ciatalgia também é preocupante, uma vez que as o estudos de gabapentinoides nesse contexto são negativos [9].

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