Sulfato de Magnésio para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

Criado em: 10 de Outubro de 2022 Autor: João Mendes Vasconcelos

O sulfato de magnésio tem ação broncodilatadora, sendo útil no tratamento de exacerbações de asma. Não existe recomendação para uso em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Uma nova revisão sistemática e meta-análise publicada pela Cochrane avaliou o uso do magnésio na DPOC exacerbada [1]. Vamos ver o que esse trabalho encontrou e revisar no assunto.

Uso do sulfato de magnésio

O sulfato de magnésio (MgSO4) é uma substância com aplicações variadas. Entre as indicações clínicas, estão:

  • Crise de asma grave
  • Eclâmpsia/pré-eclâmpsia
  • Torsades de pointes

Nesses cenários, em geral se faz infusões mais rápidas. Quando é utilizado para reposição de magnésio, o ideal é repor mais lentamente, pela chance de eliminação renal de magnésio.

O perfil de segurança é muito bom. Deve-se ter cuidado quando utilizar em pacientes com disfunção renal, pelo risco de acúmulo de magnésio e intoxicação. A hipermagnesemia pode ocasionar inicialmente hiporreflexia e paresia, evoluindo com bradicardia, hipotensão e parada cardiopulmonar.

Estão disponíveis ampolas de 10%, com 1 g em 10 ml, e 50%, com 5g em 10ml. Deve-se ter cuidado na hora de prescrever, para não realizar a infusão inadvertida de ampolas de 50%.

Evidência na asma

A teoria mais aceita sobre o efeito broncodilatador do magnésio é a inibição do influxo de cálcio no músculo liso da via aérea [2].

Uma das melhores evidências do uso de sulfato de magnésio na asma vem de uma revisão da Cochrane de 2014 [3]. Quatorze trabalhos foram avaliados, a maioria ensaios clínicos randomizados, totalizando 2313 pacientes. As doses estudadas variaram de 1,2 a 2g de sulfato de magnésio com infusão em 15 a 30 minutos. A maior parte dos pacientes nos estudos já tinha recebido oxigênio, beta agonistas e corticóides.

Os pesquisadores encontraram que o MgSO4 reduziu a taxa de internação hospitalar (odds ratio 0,75 intervalo de confiança 0,60 - 0,92; evidência de alta qualidade). Isso resultaria que, para cada 100 pacientes tratados com magnésio, teríamos 7 internações a menos. Os efeitos adversos mais citados foram flush, fadiga, náuseas, cefaleia e hipotensão.

Global Initiative for Asthma (GINA) de 2022 orienta que o MgSO4 não deve ser utilizado de rotina [4]. O documento coloca que o magnésio pode evitar admissões hospitalares em pacientes com VEF1 menor que 25 a 30% do predito ou que não responderam à terapia inicial.

O que a revisão acrescentou na DPOC?

Apesar do papel bem definido na asma, o uso do magnésio na DPOC exacerbada nunca foi muito claro. Essa revisão buscou elucidar a questão.

Comparando MgSO4 intravenoso versus placebo, os pesquisadores encontraram que a intervenção parece ser capaz de reduzir a necessidade de internação hospitalar (odds ratio 0,45; intervalo de confiança 0,23 - 0,88). O número de pacientes necessário para tratar e conseguir um desfecho positivo adicional é de 7, apesar da imprecisão desse dado. Parece não haver impacto significativo na necessidade de ventilação mecânica não invasiva. Internação em UTI e mortalidade não foram reportados. Sulfato de magnésio inalatório também foi testado, sem evidência de benefício.

Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) de 2022 não menciona o uso de sulfato de magnésio [5].

Aproveite e leia:

6 de Maio de 2024

Hipomagnesemia

Hipomagnesemia é um distúrbio eletrolítico comum, podendo ocorrer em até 10% dos pacientes em enfermaria e 65% daqueles em terapia intensiva. Um estudo publicado em 2023 revisou estratégias de reposição intravenosa de magnésio. Este tópico foca na avaliação e tratamento da hipomagnesemia e traz os resultados do estudo

3 de Outubro de 2022

Dexmedetomidina para Sedação e Agitação

A dexmedetomidina, mais conhecida pelo nome comercial precedex®, é um sedativo cada vez mais encontrado nas unidades de terapia intensiva (UTI). Uma revisão recente publicada na revista Intensive Care Medicine avaliou se a dexmedetomidina é capaz de reduzir delirium na UTI quando comparado a outros sedativos. Vamos ver o que essa revisão acrescentou e rever o uso da dexmedetomidina.

3 de Julho de 2023

Pré-oxigenação e Oxigenação Apneica na Intubação

Dessaturação e hipoxemia durante a intubação estão associadas a eventos adversos graves. Duas estratégias utilizadas para evitá-las são a pré-oxigenação e a oxigenação apneica. Em abril de 2023, um artigo sobre o uso de cateter nasal de alta fluxo na oxigenação apneica foi publicado no Annals of Intensive Care. Este tópico revisa o tema e traz os resultados do estudo.

22 de Janeiro de 2024

Características e Manejo de Pneumonia no Paciente Imunossuprimido

Pneumonia é a principal causa de morte causada por infecções e pacientes imunossuprimidos apresentam piores desfechos e maior mortalidade. Apesar disso, dados epidemiológicos e prognósticos em imunossuprimidos são escassos na literatura. Em janeiro de 2024, foi publicada uma coorte prospectiva na Open Forum Infectious Disease sobre pneumonia nessa população.

16 de Janeiro de 2023

Diretriz de AVC Hemorrágico de 2022

A American Stroke Association lançou em maio de 2022 as novas diretrizes de manejo do acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCh) espontâneo. A diretriz organiza pontos consolidados e traz recomendações baseadas em resultados de estudos recentes. Confira os tópicos abaixo.