Sulfato de Magnésio para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
O sulfato de magnésio tem ação broncodilatadora, sendo útil no tratamento de exacerbações de asma. Não existe recomendação para uso em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Uma nova revisão sistemática e meta-análise publicada pela Cochrane avaliou o uso do magnésio na DPOC exacerbada [1]. Vamos ver o que esse trabalho encontrou e revisar no assunto.
Uso do sulfato de magnésio
O sulfato de magnésio (MgSO4) é uma substância com aplicações variadas. Entre as indicações clínicas, estão:
- Crise de asma grave
- Eclâmpsia/pré-eclâmpsia
- Torsades de pointes
Nesses cenários, em geral se faz infusões mais rápidas. Quando é utilizado para reposição de magnésio, o ideal é repor mais lentamente, pela chance de eliminação renal de magnésio.
O perfil de segurança é muito bom. Deve-se ter cuidado quando utilizar em pacientes com disfunção renal, pelo risco de acúmulo de magnésio e intoxicação. A hipermagnesemia pode ocasionar inicialmente hiporreflexia e paresia, evoluindo com bradicardia, hipotensão e parada cardiopulmonar.
Estão disponíveis ampolas de 10%, com 1 g em 10 ml, e 50%, com 5g em 10ml. Deve-se ter cuidado na hora de prescrever, para não realizar a infusão inadvertida de ampolas de 50%.
Evidência na asma
A teoria mais aceita sobre o efeito broncodilatador do magnésio é a inibição do influxo de cálcio no músculo liso da via aérea [2].
Uma das melhores evidências do uso de sulfato de magnésio na asma vem de uma revisão da Cochrane de 2014 [3]. Quatorze trabalhos foram avaliados, a maioria ensaios clínicos randomizados, totalizando 2313 pacientes. As doses estudadas variaram de 1,2 a 2g de sulfato de magnésio com infusão em 15 a 30 minutos. A maior parte dos pacientes nos estudos já tinha recebido oxigênio, beta agonistas e corticóides.
Os pesquisadores encontraram que o MgSO4 reduziu a taxa de internação hospitalar (odds ratio 0,75 intervalo de confiança 0,60 - 0,92; evidência de alta qualidade). Isso resultaria que, para cada 100 pacientes tratados com magnésio, teríamos 7 internações a menos. Os efeitos adversos mais citados foram flush, fadiga, náuseas, cefaleia e hipotensão.
O Global Initiative for Asthma (GINA) de 2022 orienta que o MgSO4 não deve ser utilizado de rotina [4]. O documento coloca que o magnésio pode evitar admissões hospitalares em pacientes com VEF1 menor que 25 a 30% do predito ou que não responderam à terapia inicial.
O que a revisão acrescentou na DPOC?
Apesar do papel bem definido na asma, o uso do magnésio na DPOC exacerbada nunca foi muito claro. Essa revisão buscou elucidar a questão.
Comparando MgSO4 intravenoso versus placebo, os pesquisadores encontraram que a intervenção parece ser capaz de reduzir a necessidade de internação hospitalar (odds ratio 0,45; intervalo de confiança 0,23 - 0,88). O número de pacientes necessário para tratar e conseguir um desfecho positivo adicional é de 7, apesar da imprecisão desse dado. Parece não haver impacto significativo na necessidade de ventilação mecânica não invasiva. Internação em UTI e mortalidade não foram reportados. Sulfato de magnésio inalatório também foi testado, sem evidência de benefício.
O Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) de 2022 não menciona o uso de sulfato de magnésio [5].
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