Critérios de Classificação de Arterite de Células Gigantes
Em novembro de 2022, o American College of Rheumatology (ACR) e a European Alliance of Associations for Rheumatology (EULAR) publicaram uma atualização sobre os critérios de classificação de arterite de células gigantes [1]. Vamos aproveitar a publicação para revisar o tema.
O que é a arterite de células gigantes?
A arterite de células gigantes (ACG) ou arterite temporal é a vasculite mais comum em pessoas com mais de 50 anos [2]. Essa condição é definida patologicamente por uma arterite granulomatosa que afeta vasos de médio e grande calibre com predisposição para afetar as artérias cranianas [3].
As características comuns de apresentação clínica incluem cefaleia, sintomas constitucionais, claudicação de mandíbula, hipersensibilidade do couro cabeludo, distúrbios visuais e elevação de marcadores inflamatórios.
Quais eram os critérios prévios?
Em 1990, o American College of Rheumatology (ACR) publicou os critérios de classificação para ACG [4]. Eles foram desenvolvidos através da comparação de 214 pacientes com ACG com 593 pacientes com outras vasculites (granulomatose com poliangeíte, granulomatose eosinofílica com poliangeíte, poliarterite nodosa). A classificação tradicional inclui 5 critérios:
- Idade ≥ 50 anos no início da doença
- Cefaleia nova localizada
- Sensibilidade ou redução de pulso de artéria temporal
- VHS ≥ 50mm/h
- Biópsia de artéria temporal evidenciando arterite necrosante
A presença de 3 dos 5 critérios estava associada com sensibilidade de 93,5% e especificidade de 91,2%. Há também um critério alternativo que exclui o VHS e inclui dois outros achados: hipersensibilidade em couro cabeludo e claudicação em mandíbula, língua ou durante a deglutição. A sensibilidade e especificidade são semelhantes (95,3% e 90,7%, respectivamente).
Esses critérios foram definidos antes de métodos diagnósticos mais avançados de imagem vascular como a ultrassonografia. A imagem vascular têm demonstrado que o envolvimento arterial na ACG não está confinado às artérias cranianas e pode comumente afetar a aorta e ramos primários em um padrão semelhante à arterite de Takayasu [5-8].
Os critérios de 1990 focam principalmente nas características cranianas da ACG. Esses critérios não têm um bom desempenho na classificação de pacientes com doenças que afetam predominantemente outras grandes artérias. Além disso, seguem a regra do "número de critérios", que considera cada critério com o mesmo peso. Os avanços metodológicos nos critérios de classificação permitiram o movimento em direção a critérios ponderados com pontuação limite que melhoram o desempenho das características.
O que mudou?
Em novembro de 2022, ACR e EULAR publicaram a validação e atualização dos critérios classificatórios para ACG através de um estudo observacional prospectivo internacional, multicêntrico, realizado de janeiro de 2011 a dezembro de 2017 (veja os critérios na tabela 1).
Foram incluídos pacientes com mais de 18 anos com diagnóstico de vasculite ou condição de mimetize esse diagnóstico (infecção, neoplasia, etc). Os pacientes com ACG só foram alocados 2 anos após o diagnóstico. Somente os dados presentes no diagnóstico foram utilizados para desenvolver os critérios de classificação.
O conjunto de dados para o desenvolvimento consistia em 518 casos de ACG comparados com 536 pacientes com outros diagnósticos. Já para validação, o conjunto de dados consistiu em 238 casos de GCA e 213 comparadores. O critério de idade ≥ 50 anos no diagnóstico era requisito absoluto para classificação de ACG. Houve predomínio do sexo feminino (67,6%) com média de idade de 72 anos.
Um paciente pode ser classificado como tendo ACG se a pontuação acumulada for ≥ 6 pontos. Quando estes critérios foram testados no conjunto de dados de validação, o modelo da área sob a curva era de 0,91 (IC 95% 0,88 - 0,94) com uma sensibilidade de 87% (IC 95% 82-91%) e especificidade de 94,8% (IC 95% 91-97,4%).
Os novos critérios foram capazes de classificar corretamente mais pacientes com o subtipo ACG de grandes vasos em comparação com os critérios de 1990, cuja sensibilidade era de 37,1% para essa expressão da doença.
Estes critérios são validados e destinados à classificação de CGA. Eles não são apropriados para serem utilizados como ferramenta única no diagnóstico de CGA. A sua aplicação é em diferenciar CGA de outras vasculites. Os critérios só devem ser aplicados quando um diagnóstico de vasculite de médios ou grandes vasos foi realizado e todos os potenciais mimetizadores foram excluídos.
Uma limitação potencial foi a não padronização na aquisição de dados clínicos e de imagem entre pacientes com vasculite de grandes vasos e comparadores, já que nem todos foram submetidos a avaliação complementar (PET, ultrassonografia e/ou biópsia de artéria temporal).
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