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Diretriz de Insuficiência Cardíaca AHA 2022

Criado em: 13 de Abril de 2022 Autor: Pedro Rafael Del Santo Magno

Em primeiro de abril foi divulgada a nova diretriz de Insuficiência Cardíaca (IC) da American Heart Association (AHA) [1]. O documento consolida várias descobertas recentes e traz nova ótica sobre pontos antigos. Aqui vão quatro tópicos de destaque do documento:

Novas terminologias

A AHA modificou a maneira da classificação dos estágios do paciente com IC. O que antes era dividido em letras de A a D, agora ficou mais descritivo e claro.

  • Estágio A virou "Em risco para IC". Engloba pacientes que não possuem sintomas nem doença estrutural, mas tem comorbidades que precisam ser controladas como obesidade, hipertensão e exposição a agentes cardiotóxicos.
  • Estágio B virou "Pré-IC". Pacientes assintomáticos, mas já com doença estrutural ou pressões cardíacas aumentadas (seja no ecocardiograma ou com BNP elevado). Se houver fração de ejeção reduzida (<40%), já existe benefício de inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECA), mesmo sem sintomas. O betabloqueador também é uma opção, contanto que tenha história prévia de infarto agudo do miocárdio.
  • Estágio C virou "IC sintomática".
  • Estágio D virou "IC avançada".

Amiloidose

Outro ponto de destaque é o diagnóstico de amiloidose cardíaca. É recomendado fazer rastreio de amiloidose em pacientes com IC que possuem espessamento da parede do ventrículo esquerdo acima de 14 mm, principalmente quando o ECG não refletir esse espessamento (baixa amplitude no QRS). Outros indicadores são pacientes com estenose aórtica, síndrome do túnel do carpo, IC de fração de ejeção preservada (ICFEp), estenose do canal medular ou polineuropatia sensorial ou autonômica.

O rastreio é feito com pesquisa de cadeias leves monoclonais no sangue e na urina. Se esses exames forem negativos, mas a suspeita for alta, é possível ainda realizar a cintilografia cardíaca com pirofosfato de tecnécio. Esse último exame é relevante para o subtipo ATTR da amiloidose cardíaca, pois essa condição não produz cadeias leves. O diagnóstico impacta no aconselhamento genético do paciente e familiares e no tratamento, já que para o subtipo ATTR há evidência de redução de mortalidade com a medicação tafamidis.

Terapia da IC com fração de ejeção reduzida (ICFEr)

O documento elenca quatro terapias iniciais para o tratamento da IC de fração de ejeção reduzida, colocando-as em pé de igualdade:

  • Inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECA), bloqueadores do receptor da angiotensina 2 (BRA) e inibidores da neprilisina e receptor da angiotensina (ARNI) - Os ARNI agora são recomendados desde o início do tratamento em pacientes com IC sintomática NYHA 2 a 3. Já os iECA e BRA continuam recomendados em pacientes sintomáticos NYHA 2 a 4.
  • Betabloqueador (BB) - Lembrando que os BB que reduzem mortalidade são carvedilol, succinato de metoprolol e bisoprolol.
  • Inibidores do cotransportador de sódio glicose 2 (iSGLT2) - Independente se o paciente tem ou não diabetes.
  • Antagonistas do receptor da aldosterona - Atenção com pacientes com taxa de filtração glomerular abaixo, de 30 ml/min e potássio acima de 5,5.

Inibidores do cotransportador de sódio glicose 2

Após o destaque que os iSGLT2 receberam nos periódicos nos últimos anos, a diretriz aumentou a sua importância. As recomendações para uso são:

  • ICFEr: nível de evidência 1A, podendo ser introduzidos desde o começo do tratamento.
  • IC com fração de ejeção levemente reduzida (40 a 50%): nível de evidência 2A.
  • ICFEp: nível de evidência 2A.

Essas recomendações foram feitas baseadas em estudos como o EMPEROR-Preserved [2], que recebeu nossa premiação de artigo do ano de 2021 - Veja nosso resumo do artigo neste link.

Lembrando que não importa se o paciente tem ou não diabetes!

Tratamento de Bactérias AmpC, CRAB e Stenotrophomonas maltophilia

Criado em: 13 de Abril de 2022 Autor: João Mendes Vasconcelos

O aumento de bactérias multidroga resistentes deixa cada vez mais difícil o manejo de infecções hospitalares. A Sociedade Americana de Doenças Infecciosas (IDSA) publicou um posicionamento sobre o tratamento de enterobactérias produtoras de AmpC, Acinetobacter baumannii produtor de carbapenemase e Stenotrophomonas maltophilia [1]. Abaixo os principais pontos do documento.

O que é uma betalactamase AmpC?

Betalactamases AmpC são enzimas produzidas por algumas bactérias que inativam antibióticos betalactâmicos. A produção dessas enzimas pode ser induzida pelo próprio uso de antibióticos. Isso pode levar ao seguinte cenário: uma bactéria isolada na cultura pode ser sensível a ceftriaxone e ceftazidime inicialmente, porém após o começo do tratamento pode produzir AmpC e se tornar resistente. Isso pode acontecer mesmo após poucas doses do antibiótico.

Quais bactérias têm maior risco de produzirem AmpC induzida por antibióticos?

Alguns locais usam acrônimos para agrupar essas bactérias (MYSPACE, SPICE…). Essas siglas colocam juntas bactérias com potenciais bastante distintos de produzirem AmpC, por isso é mais acurado discriminar quais têm maior ou menor potencial de desenvolverem resistência.

Enterobacter cloacae, Klebsiella aerogenes (antiga Enterobacter aerogenes) e Citrobacter freundii são as bactérias com maior risco de produzirem AmpC [2]. Essas bactérias podem se tornar resistentes ao ceftriaxone durante o tratamento em 8 a 40% dos casos.

Vários outros organismos podem produzir AmpC, mas o seu potencial é menor ou desconhecido. Serratia marcescens, Morganella morganii e espécies de Providencia são alguns exemplos de germes com menor potencial de se tornarem resistentes. Já Hafnia alvei, Citrobacter youngae e Yersinia enterocolitica carregam o gene que produz a enzima, mas foram pouco estudadas.

Que antibiótico escolher quando encontrar alguma bactéria capaz de produzir AmpC?

Se a cultura mostrar E. cloacae, K. aerogenes ou C. freundii, deve-se evitar ceftriaxone ou ceftazidime, mesmo se o antibiograma mostrar que os germes são sensíveis ao antibiótico. A única exceção é em casos de cistite, em que o ceftriaxone pode ser utilizado.

Para germes em que o potencial de produção de AmpC é menor ou desconhecido existe mais incerteza. O documento considera razoável seguir os resultados das culturas (ou seja, dar ceftriaxone se a bactéria for sensível a esse antibiótico). Existe uma advertência em infecções com alta carga bacteriana e controle de foco reduzido (ex.: endocardite e ventriculite). Nessas situações, uma sugestão é utilizar cefepime ao invés de ceftriaxone, mesmo se a bactéria isolada for sensível a ceftriaxone.

O cefepime é uma boa opção para germes de alto risco quando a concentração inibitória mínima (MIC) é < 2 mcg/ml. Quando o MIC para cefepime é> 4 mcg/ml, recomenda-se um carbapenêmico. O documento aponta que há ressalvas quanto ao uso de piperacilina-tazobactam para infecções graves causadas por germes com alto risco de produção de AmpC.

O que é e como tratar Acinetobacter baumannii resistente a carbapenêmicos?

A. baumannii é um bacilo gram negativo isolado com frequência em infecções associadas aos cuidados hospitalares. O mais comum é encontrar esse germe no trato respiratório ou em feridas crônicas.

O A. baumannii resistente a carbapenêmicos (CRAB) é um desafio terapêutico. Demonstra resistência a vários outros antibióticos, acomete pacientes vulneráveis e é difícil saber se está colonizando ou causando infecção de fato.

Em infecções leves, o documento orienta monoterapia preferencialmente com ampicilina/sulbactam. Outras opções são tigeciclina e polimixina B/colistina. Em casos graves, recomenda-se terapia combinada, apesar de a evidência ser escassa.

O sulbactam possui boa atividade contra Acinetobacter baumannii. A diretriz recomenda o uso de altas doses, que podem ser administradas na forma de ampicilina-sulbactam. A combinação ampicilina-sulbactam segue a proporção 2:1, ou seja, em cada 3 g dessa formulação, há 2 g de ampicilina e 1 g de sulbactam. A dose sugerida pela diretriz é de 27 g de ampicilina-sulbactam, que pode ser administrada em infusão contínua ao longo de 24 horas ou em doses de 9 g (6 g de ampicilina e 3 g de sulbactam) a cada 8 horas, com infusões de 4 horas de duração [3]. Em casos graves, a recomendação é que esse antibiótico faça parte do esquema terapêutico. Mesmo em casos de resistência no antibiograma, é razoável considerar o sulbactam, pois ainda assim pode ser efetivo.

A diretriz sugere não fazer meropenem combinado com polimixina sem um terceiro antibiótico e evitar antibióticos nebulizados em casos de pneumonia.

O que é e como tratar Stenotrophomonas maltophilia?

S. maltophilia é um bacilo gram negativo presente em ambientes com água. O germe está envolvido em infecções nosocomiais, acometendo pacientes vulneráveis, como aqueles com doenças pulmonares crônicas e neoplasias.

Em infecções leves, algumas opções são sulfametoxazol/trimetoprim (preferencial), tigeciclina e levofloxacino. Em infecções graves, sugere-se terapia combinada com sulfametoxazol/trimetoprim e outro agente ou monoterapia com sulfametoxazol/trimetoprim e acrescentar outro agente se resposta insatisfatória.

AVC Isquêmico Maligno

Criado em: 13 de Abril de 2022 Autor: Kaue Malpighi

AVCi maligno é uma doença grave com até 78% de mortalidade. O tratamento é semelhante aos outros tipos de AVCi, com poucas condutas específicas que mudem seu desfecho. Em 07 de abril foi publicado um artigo original no New England Journal of Medicine sobre terapia endovascular em AVCi maligno. Vamos aproveitar para revisar esse tópico e avaliar o que essa nova evidência acrescenta na prática.

O que é AVC isquêmico maligno?

  • AVC que cursa com edema cerebral significativo, grave o suficiente para produzir desvios e herniações.
  • A maioria destes infartos ocorre por oclusão da carótida interna ou segmento proximal (M1) da artéria cerebral média (ACM).
  • O preditor radiológico mais importante de desfechos negativos é a área infartada inicial maior que 50% do território da ACM. Esse achado aumenta a probabilidade de edema cerebral grave, herniação e morte. A extensão de área infartada é medida segundo a escala ASPECTS, em que o paciente começa com 10 pontos e 1 ponto é subtraído para cada área afetada, com um mínimo de 0 pontos.
  • Uma das únicas terapias com benefício em desfechos clínicos é a descompressão cirúrgica.

Quando realizar descompressão cirúrgica?

Hemicraniectomia pode ser usada para reversão do efeito de massa, alívio do desvio do parênquima e redução da pressão intracraniana. Há evidência de redução de mortalidade, porém às custas de disfunção neurológica significativa.

Em geral, indicada em:

  • AVCi < 48 horas
  • Idade ≤ 60 anos
  • Diagnóstico inquestionável de infarto hemisférico, definido aqui como acometimento > 50% do território da ACM
  • Paciente e família esclarecidos quanto a sobrevida e disfuncionalidade
Tabela 1
Escala de Rankin Modificada - mRS
Escala de Rankin Modificada - mRS

Uma meta-análise de 2021 em pacientes com ASPECTS menor ou igual a 5 encontrou benefício de funcionalidade e mortalidade quando comparado ao tratamento clínico, apesar de ter aumentado o número de pacientes que sobreviveram com um mRS (Escala de Rankin Modificada - ver tabela 1) de 4 a 5.

Papel da terapia endovascular no tratamento do AVCi maligno

Terapia endovascular vem ganhando campo no AVCi com oclusão de grandes vasos, veja a tabela 2 para ver os principais estudos e indicações.

Tabela 2
Indicação de trombectomia conforme tempo de déficit
Indicação de trombectomia conforme tempo de déficit

Com a escassez de terapias específicas nos AVCs malignos, um estudo publicado no NEJM em abril de 2022 testou o efeito da terapia endovascular nesse cenário.

Tabela 3
Desfechos do Estudo
Desfechos do Estudo

Foi um estudo aberto, multicêntrico (45 hospitais no Japão), randomizado, incluindo pacientes com ASPECTS 3 a 5 e com oclusão da ACM ou carótida Interna. Os pacientes foram randomizados para tratamento padrão ou para terapia endovascular associada ao tratamento padrão. Edema cerebral com desvio de linha média, hemorragia intracraniana ou alto risco para hemorragia foram critérios de exclusão. Veja os desfechos na tabela 3.

Essa nova evidência muda nossa prática?

O estudo evidenciou benefício de desfecho funcional, apesar de utilizar como desfecho primário um mRS mais "maleável" de 0 a 3 (normalmente utiliza-se de 0 a 2 como disfunção leve). Pela gravidade da doença, dos pacientes que passaram pela terapia endovascular, quase 50% apresentou mRS de 4 a 5 (disfuncionalidade grave). Não houve aumento significativo de hemorragias intracranianas sintomáticas.

Algumas observações são necessárias. Apesar das diretrizes indicarem cautela no uso de alteplase em infarto extensos, a dose foi baixa para os padrões brasileiros e dos Estados Unidos. Uma taxa maior de uso de trombolíticos poderia melhorar o desfecho no grupo de terapia padrão, e também aumentar o risco de sangramento nos pacientes do grupo terapia endovascular. Além disso, a dose usada por centros japoneses é menor que a dos centros brasileiros (0.6mg/kg vs. 0.9mg/kg).

Apesar de promissor, ainda precisamos de estudos maiores e representativos da nossa população para garantir que a terapia endovascular seja uma alternativa segura para isquemias extensas.