Tratamento de Arterite de Células Gigantes

Criado em: 16 de Outubro de 2023 Autor: Joanne Alves Moreira

A arterite de células gigantes (ACG ou arterite temporal) é a vasculite mais comum em pacientes com mais de 50 anos e pode causar perda visual permanente. Recomenda-se o tratamento já na suspeita inicial, porém existe dúvida se a terapia precoce interfere nos resultados dos exames diagnósticos. Um artigo recente avaliou o impacto do uso de corticoides na positividade da biópsia de artéria temporal [1]. Este tópico revisa o tratamento de ACG e aborda os resultados do trabalho.

Qual é o tratamento inicial?

Os glicocorticoides são indicados para todos os pacientes com arterite de células gigantes (ACG). A presença de duas manifestações impacta na dose e via iniciais (fluxograma 1):

  • Sintomas visuais - incluindo amaurose fugaz
  • Isquemia intracraniana - definida como envolvimento neurológico, incluindo AVC.
Fluxograma 1
Tratamento de Arterite de Células Gigantes
Tratamento de Arterite de Células Gigantes

Ausência de comprometimento visual e isquemia intracraniana

A preferência é terapia pela via oral. A diretriz da European League Against Rheumatism (EULAR) recomenda prednisona 40 a 60 mg por dia ou equivalente, com objetivo de reduzir sintomas e prevenir a perda visual [2]. A diretriz do American College of Rheumatology recomenda iniciar prednisona em 1 mg/kg de peso ou doses equivalentes, sendo a dose máxima de 80 mg/dia [3].

Em pacientes com diagnóstico recente de ACG, não se deve utilizar dose baixa de corticoide (prednisona < 40 mg por dia) por ausência de estudos com essa dose.

A maioria dos pacientes apresenta melhora clínica em um a sete dias do início do tratamento, mas espera-se uma melhora significativa dos sintomas nas primeiras 24 a 48 horas. Em pacientes sem esse curso, deve-se considerar outras possibilidades diagnósticas.

O desmame da dose de corticoide é progressivo e dependerá da resposta clínica. Recidivas são comuns durante o desmame (veja mais no tópico “como desmamar corticoide” na revisão de Insuficiência Adrenal).

O ACR sugere o uso combinado de corticoide com metotrexato ou tocilizumabe no tratamento. O objetivo é reduzir dose e tempo de uso de corticoide, além dos efeitos colaterais [4, 5]. A decisão de tratamento com dupla terapia ou monoterapia com glicocorticoides deve ser baseada na experiência do médico e nos valores e preferências do paciente.

O EULAR recomenda terapia combinada apenas em pacientes com recidiva, sem resposta após aumentar a dose de corticoide [2].

Presença de comprometimento visual ou isquemia intracraniana

O ACR orienta que a pulsoterapia com corticoide pode ser utilizada em casos de alto risco de perda visual, objetivando a prevenção. Perda visual estabelecida raramente é reversível. A decisão deve ser compartilhada com o paciente [6].

O tratamento consiste em metilprednisolona 500 a 1000 mg/dia por três a cinco dias seguida de alta dose de corticoide oral (1 mg/kg/dia até o máximo de 80 mg/dia de prednisona ou equivalente, segundo ACR, ou 40 a 60 mg/dia, segundo EULAR).

Uma revisão cita que o tempo de início da terapia pode ser mais importante do que a via de administração para prevenção de futuros eventos isquêmicos graves [7].

Como tratar os casos sem remissão?

A abordagem de pacientes sem remissão ou com recorrência é semelhante nos dois grupos de pacientes discutidos anteriormente. Sugere-se adicionar um imunossupressor ao glicocorticoide. As opções são tocilizumabe, metotrexato e abatacepte.

A exceção a essa regra é a recidiva com polimialgia reumática que pode ser controlada apenas com o aumento da dose de glicocorticoides [3].

Tocilizumabe é um anticorpo monoclonal que atua bloqueando os receptores de interleucina 6. Apesar de não ter estudos que comparem esta medicação ao metotrexato, o tocilizumabe tem melhor resposta para evitar uso prolongado de corticoide (“efeito poupador”) [4, 8].

Metotrexato pode ser considerado em pessoas com contraindicação ao tocilizumabe por infecções recorrentes, história de perfurações gastrointestinais ou diverticulite. Também é uma opção de menor custo.

Abatacepte é uma imunoglobulina do antígeno do linfócito T citotóxico (CTLA-4 Ig) que pode ser utilizado em casos de ausência de resposta com as opções anteriores [9].

Qual é o achado do estudo?

A biópsia da artéria temporal (BAT) é um dos critérios diagnósticos de ACG. Apesar da importância, há grande heterogeneidade na sensibilidade do exame [10, 11]. Acredita-se que o uso de corticoides antes da biópsia reduz a positividade dos achados anatomopatológicos.

O artigo, uma coorte retrospectiva canadense, avaliou o impacto do uso de corticoide na positividade da BAT [1]. O diagnóstico de ACG foi definido pela combinação de avaliação clínica, marcadores inflamatórios, BAT e imagem, sem aplicação de critérios diagnósticos.

Os pacientes foram estratificados pelo número de semanas de tratamento com corticoide antes da BAT e foram excluídos os indivíduos que fizeram biópsia após seis semanas.

O estudo incluiu 223 pacientes, destes 48 (21,5%) apresentaram BAT positiva. Do total da coorte, 118 (52,9%) indivíduos foram diagnosticados com ACG, incluindo todos os indivíduos com BAT positiva. Entre os 70 pacientes com BAT negativa, 36 (51,4%) foram diagnosticados por angiografia por ressonância magnética e 34 (48,6%) por critérios clínicos (veja mais no tópico Critérios de Classificação de Arterite de Células Gigantes)

Os indivíduos com BAT positiva apresentavam com mais frequência perda de visão, claudicação da mandíbula, sintomas constitucionais e elevação de VHS e/ou PCR.

Os testes aplicados demonstraram que a terapia com glicocorticoides não afetou a positividade da BAT durante, pelo menos, 6 semanas.

Existem limitações a este estudo. Não foi utilizado um algoritmo diagnóstico padronizado ou avaliação histológica padronizada da BAT, que pode ser afetada pelo uso de corticoide, mas que não afetaria necessariamente o diagnóstico clínico. Além disso, o tamanho da amostra, o agrupamento dos dados em 6 semanas e a natureza retrospectiva do estudo dificultam a generalização dos resultados, particularmente em uso mais prolongado de corticoide.

O ACR recomenda realização de BAT em até 14 dias após o início da corticoterapia. Para os autores, a recomendação é conservadora, já que a utilidade da BAT não é diminuída apesar do uso prévio de corticoide e não deve ser evitada pela possibilidade de falsos negativos.

Miocardite

Criado em: 16 de Outubro de 2023 Autor: Pedro Rafael Del Santo Magno

Miocardite é uma doença inflamatória do músculo cardíaco, causada por diferentes agentes. O paciente com miocardite tem sintomas variados, indo de sinais de insuficiência cardíaca e dor torácica até morte súbita. O maior uso da ressonância magnética tem aumentado o reconhecimento da doença. Este tópico revisa as causas, manifestações, diagnóstico e tratamento da miocardite, baseado na revisão do NEJM de outubro de 2022 e na diretriz brasileira de 2022 [1, 2].

O que é e o que causa miocardite?

A inflamação do miocárdio pode ocorrer por causas infecciosas (especialmente virais) e não infecciosas (como exposição a toxinas e drogas). A tabela 1 resume as etiologias, baseada na diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia [2].

Tabela 1
Principais causas de miocardite
Principais causas de miocardite

A miocardite viral é a mais descrita, apesar de muitos casos não serem submetidos ao padrão ouro de diagnóstico - a biópsia endomiocárdica e sequenciamento viral. A miocardite mediada por infecção viral pode ocorrer por vírus cardiotrópicos (adenovírus e enterovírus - coxsackievírus), vasculotrópicos (parvovírus B19), linfotrópicos (citomegalovírus, Epstein–Barr vírus, e herpesvírus 6) e outros (HIV, influenza, vírus da hepatite C e SARS-CoV-2) [3].

Os inibidores de checkpoint ganham destaque entre as causas medicamentosas de miocardite. Podem levar a inflamações imunomediadas, em média 34 dias após o início da terapia. Pneumonite, nefrite e colite são manifestações possíveis, além do acometimento cardíaco [4]. A European Society of Cardiology orienta monitorização com eletrocardiograma e troponina em todos os pacientes utilizando inibidores de checkpoint [5].

Existe um componente genético nas miocardites causadas por vírus ou toxinas. Há relatos de variantes deletérias nos genes relacionados à estrutura e função dos cardiomiócitos em até 16% dos casos. Possivelmente, existe uma predisposição genética que facilita o desenvolvimento de miocardite em pacientes expostos a fatores externos [6].

Outra causa não infecciosa de destaque é a sarcoidose. A presença de bloqueio atrioventricular em pacientes com menos de 60 anos está relacionada à sarcoidose cardíaca em 35% dos casos [7]. Além disso, sarcoidose corresponde a 28% das taquicardia ventriculares.

Sintomas

As manifestações clínicas de miocardite podem ser divididas em formas complicadas e não complicadas. As formas complicadas incluem insuficiência cardíaca e arritmias ameaçadoras à vida (bloqueios atrioventriculares e arritmias ventriculares). As formas não complicadas são as que não apresentam as manifestações anteriores.

Febre ocorre em 64% dos pacientes e dor de garganta em 36%. Outros sintomas como dispneia, síncope e alterações gastrointestinais também são comuns. Elevação de troponina ocorre em 99% dos pacientes, independente da forma clínica. Doença coronariana deve ser afastada se existe suspeita de infarto.

A dor torácica é o principal sintoma nas formas não complicadas. A elevação do segmento ST é descrita em 62% dos casos. Pacientes que apresentam apenas essa forma tem um curso da doença melhor, com menor mortalidade e necessidade de transplante cardíaco [8].

Na forma complicada, o sintoma mais comum é a dispneia. Pode haver necessidade de inotrópicos ou suporte circulatório em até 32% dos casos. Essa situação é chamada de miocardite fulminante.

Diagnóstico

O primeiro exame na suspeita de miocardite é o ecocardiograma. Ele pode apresentar:

  • Fração de ejeção reduzida
  • Disfunção segmentar do ventrículo esquerdo
  • Aumento do diâmetro diastólico final do ventrículo esquerdo
  • Excursão sistólica do plano do anel tricúspide (tricuspid annular plane systolic excursion, o TAPSE) menor que 18 mm
  • Sinais de disfunção de ventrículo direito.

As ferramentas diagnósticas para miocardite incluem a ressonância magnética e biópsia endomiocárdica.

A biópsia endomiocárdica é o exame padrão ouro para diagnosticar a etiologia do quadro e deve ser considerada em pacientes que apresentam suspeita de miocardite e:

  • Choque cardiogênico
  • Arritmias ventriculares ou bloqueios atrioventriculares (Mobitz 2 ou total)
  • Eosinofilia
  • Uso recente de inibidores de checkpoint
  • Marcadores de necrose miocárdica persistentemente elevados, principalmente na suspeita de doença autoimune.

O achado diagnóstico na biópsia é a presença de infiltrado inflamatório com necrose ou degeneração de miócitos adjacentes. O exame possui maior acurácia quando realizado dentro de duas semanas dos sintomas. A diferenciação em subtipos de infiltrado (linfocítico, eosinofílico, células gigantes, sarcoidose) determina prognóstico e tratamento diferentes. É recomendada a pesquisa de vírus na amostra por meio de reação em cadeia de polimerase (PCR).

A ressonância magnética (RM) cardíaca possui alta sensibilidade se realizada dentro de duas a três semanas do início do quadro. A diretriz brasileira recomenda a realização de ressonância magnética em todo paciente que possuir elevação dos marcadores de necrose miocárdica e coronárias normais na avaliação angiográfica.

Tabela 2
Critérios de Lake Louise para diagnóstico de miocardite com ressonância magnética
Critérios de Lake Louise para diagnóstico de miocardite com ressonância magnética

O critério diagnóstico de Lake Louise auxilia a entender as alterações vistas na RM (tabela 2) [9]. O objetivo da RM é detectar presença de edema miocárdico, indicando inflamação, ou sinais de necrose e fibrose não compatíveis com área isquêmicas (território coronariano e região subendocárdica).

Tratamento

O manejo da miocardite é dividido em duas etapas: suporte e tratamento específico. As medidas de suporte são destinadas aos casos de insuficiência cardíaca por miocardite. As terapias medicamentosas indicadas para outras causas de insuficiência cardíaca também se aplicam aqui. Inotrópicos e terapias avançadas seguem as mesmas indicações de outras causas de choque cardiogênico.

O tratamento específico varia conforme a etiologia. Casos virais são manejados exclusivamente com terapia de suporte, uma vez que não há antivirais indicados.

Corticosteroides possuem indicações específicas, não havendo benefício para pacientes sem diagnóstico etiológico estabelecido. As situações que se beneficiam de corticoterapia são:

  • Sarcoidose
  • Miocardite eosinofílica (não relacionada a parasitose)
  • Miocardite de células gigantes
  • Febre reumática
  • Miocardite associada a uso de inibidores de checkpoint
  • Miocardite associada a doenças autoimunes (lúpus, artrite reumatoide, Behçet, granulomatose eosinofílica com poliangeíte)

Se o paciente apresenta miocardite fulminante de provável etiologia imune, a American Heart Association sugere uso de metilprednisolona 1000 mg antes da confirmação por biópsia [10].

Pacientes com quadro de miocardite devem ser afastados de atividades físicas por três a seis meses.

Como Fazer

Reposição de Potássio

Criado em: 16 de Outubro de 2023 Autor: Luisa Sousa

A hipocalemia é uma alteração eletrolítica frequente e que pode causar repercussões graves. A reposição de potássio exige cuidados para ser segura e efetiva. Este tópico revisa o tema.

Princípios da reposição

Após a identificação de hipocalemia, o manejo consiste em:

  • Diagnosticar e abordar a causa
  • Prevenir complicações do distúrbio (arritmias, fraqueza muscular e rabdomiólise)
  • Repor o déficit corporal

Os pacientes com maior risco de evento adverso por hipocalemia são idosos, pacientes com cardiopatia estrutural e aqueles em uso de antiarrítmicos ou digoxina.

A reposição deve ser cautelosa, pois alguns pacientes podem evoluir com hipercalemia. Um estudo encontrou que um em seis pacientes com hipocalemia desenvolveram hipercalemia após a reposição [1]. Nutrição parenteral, excesso de magnésio e redução da taxa de filtração glomerular podem contribuir com esse fenômeno. Pacientes com hipocalemia por redistribuição dos estoques corporais têm maior chance de evoluir com essa complicação, o que pode ser fatal em alguns casos [2].

O objetivo da reposição em pacientes com perdas renais ou gastrointestinais é rapidamente levar a concentração de potássio para um nível seguro e mais lentamente repor os estoques corporais. Na hipocalemia crônica, a estimativa é de que uma redução de 1 mEq/L corresponde a um déficit de 200 a 400 mEq. Essa estimativa é imprecisa e não se aplica a hipocalemia por redistribuição. Recomenda-se vigilância dos níveis de potássio durante a reposição.

Um valor de potássio sérico entre 3,0 e 3,5 mEq/L geralmente não produz sintomas e pode ser manejado com reposição oral. Em um nível sérico inferior a 2,5 a 3,0 mEq/L, está indicada a reposição intravenosa e correção mais rápida, pelos riscos relacionados ao distúrbio [3].

Reposição oral de potássio

Diante de uma hipocalemia leve (K+ 3,5-3,0 mEq/L), a reposição oral é recomendada na dose de 10 a 20 mEq, 2 a 4x/dia. As formulações de potássio não são muito palatáveis e a dose pode ser ajustada levando em conta a aceitação.

Tabela 1
Formulações orais de potássio
Formulações orais de potássio

A formulação de potássio (tabela 1) utilizada pode ser escolhida pela etiologia da hipocalemia: o cloreto de potássio é uma boa alternativa nas situações de alcalose metabólica associada; já o citrato ou o bicarbonato de potássio são melhores na acidose metabólica, seja de origem renal (acidose tubular renal) ou não renal (diarreia por exemplo) [4].

Reposição intravenosa de potássio

A reposição intravenosa de potássio está indicada nas seguintes situações:

  • Hipocalemia grave ( < 3,0 mEq/L)
  • Sintomática
  • Impossibilidade de uso da via oral

A infusão do potássio IV (tabela 2) pode causar flebite em um fluxo maior que 10 mEq/hora. Recomenda-se uma velocidade de reposição de até 10 mEq/hora em veia periférica e 20 mEq/h em veia central. Em caso de dor durante a infusão, pode-se reduzir a velocidade ou diluir mais a solução [5, 6]. O recomendado é administrar utilizando bomba de infusão para evitar a infusão inadvertida e rápida do potássio. Deve-se também fazer a reposição com monitorização eletrocardiográfica e vigilância para alterações musculares.

Tabela 2
Formulações venosas de potássio
Formulações venosas de potássio

De uma maneira geral, a concentração da solução deve ser de 20 a 60 mEq/L, preferencialmente em solução salina. Não se deve diluir em soluções glicosadas, pois a glicose estimula a liberação de insulina e desloca o potássio para o intracelular. Em uma veia periférica, muitas referências sugerem não ultrapassar 40 mEq/L e, em veia central, 60 mEq/L.

Existem estudos com reposição de potássio utilizando concentrações maiores [7, 8]. Nos dois estudos citados, concentrações de 20 mEq em 100 ml ou maiores foram infundidas em um hora, sem eventos adversos graves. As recomendações de soluções mais diluídas tem como objetivo reduzir a chance de eventos adversos. Para evitar complicações, o que as revisões enfatizam é respeitar a velocidade de infusão [9-11]. Assim, se houver alguma restrição para o uso de soluções mais diluídas, a infusão de soluções mais concentradas é possível. Contudo, algumas condições sempre devem ser seguidas:

  1. Respeitar a velocidade de infusão (10 mEq/h em periférico e 20 mEq/h em veia central)
  2. O paciente deve estar monitorizado
  3. Deve-se utilizar bomba de infusão
  4. Aferições frequentes de potássio devem ser feitas
  5. Iniciar reposição oral para evitar a necessidade de reposições intravenosas

Alguns exemplos de soluções mais concentradas são duas ampolas de 25 mEq em 500 ml ou uma ampola de 25 mEq em 250 ml, ambas gerando uma concentração de 100 mEq/L. A gravidade do quadro também influencia na velocidade da reposição. Em pacientes com arritmias, velocidades maiores (40 mEq/L ou maiores) podem ser consideradas [9].

Situações especiais

Algumas etiologias de hipocalemia, como o uso de diuréticos, também causam hipomagnesemia. O déficit de magnésio gera abertura de canais secretores de potássio luminal (ROMK) piorando a hipocalemia [12]. Se a hipomagnesemia não for corrigida, a hipocalemia pode recorrer ou ser refratária à reposição.

Duas situações de manejo cuidadoso do potássio são a cetoacidose diabética e o estado hiperosmolar hiperglicêmico. A deficiência de insulina nesse contexto desloca o potássio para o extracelular. A aferição inicial da concentração de potássio será mais elevada. O cuidado deve ocorrer durante o tratamento, pois a reposição de fluidos e administração de insulina induzem hipocalemia. Se o nível de potássio for ≤ 3,3 mEq/L, indica-se reposição de potássio antes de administrar insulina. Se a concentração estiver entre 3,4 e 5,0 mEq/L, mesmo estando em níveis aparentemente normais, deve-se administrar insulina e potássio ao mesmo tempo.

Causas de hipocalemia crônica como o hiperaldosteronismo primário ou uso crônico de diuréticos requerem uso de diuréticos poupadores de potássio para correção do distúrbio. Os antagonistas da aldosterona espironolactona e eplerenona são a escolha no tratamento do hiperaldosteronismo primário. Além de elevarem a concentração de potássio para níveis normais, revertem os efeitos do hiperaldosteronismo no coração e normalizam a pressão arterial [13].