Dengue: Dúvidas Comuns no Manejo

Criado em: 08 de Abril de 2024 Autor: Joanne Alves Moreira

Segundo dados do Ministério da Saúde, até 19 de março de 2024, foram notificados mais de 1.937.000 casos de dengue no Brasil. Com o aumento do número de casos nas cidades, surgem dúvidas sobre o manejo de pacientes em situações especiais. Este tópico tem como objetivo responder dúvidas frequentes na condução de dengue.

O que fazer com pacientes em uso de antiplaquetários?

O uso de antiagregantes plaquetários em pacientes com dengue, principalmente o ácido acetilsalicílico (AAS), e a dupla antiagregação plaquetária (DAPT) são um ponto controverso. O tempo em relação ao implante de stent pode ajudar na decisão. Dados retrospectivos sugerem que a interrupção temporária de antiplaquetários parece ser segura [1].

Implante de stent farmacológico há < 6 meses ou stent convencional até 1 mês

Nesses casos, o Ministério da Saúde (MS) orienta que pacientes em uso de DAPT devem manter a utilização durante a infecção.

Nos pacientes com contagem de plaquetas >50.000/mm³ não há necessidade de internação, mas recomenda-se a avaliação diária da plaquetometria.

Quando as plaquetas estão entre 30.000 e 50.000/mm³, os pacientes devem ser internados para observação, com controle diário da contagem de plaquetas, mas se a contagem plaquetária for abaixo de 30.000/mm³, deve-se suspender a dupla antiagregação plaquetária. O paciente deve ser mantido sob observação até que as plaquetas estejam acima de 50.000/mm³, quando a DAPT poderá ser reiniciada.

Em casos de sangramentos, está indicada transfusão de plaquetas, além das medidas específicas para interrupção da hemorragia.

Implante de stent farmacológico >6 meses ou stent convencional >1 mês

O MS orienta manter apenas o AAS desde que a contagem de plaquetas seja superior a 30.000/mm³.

Caso a contagem de plaquetas esteja entre 30.000 a 50.000/mm³, os pacientes deverão permanecer em observação com controle diário de plaquetas. Se a contagem plaquetária estiver abaixo de 30.000/mm³, o AAS deve ser retirado e só deverá ser reiniciado quando plaquetas superiores a 50.000/mm³.

Outras situações

Pacientes com profilaxia secundária de doença arterial coronariana ou cerebrovascular deverão utilizar apenas AAS, desde que o número de plaquetas seja superior a 30.000/mm³. As recomendações são semelhantes às do grupo anterior.

O que fazer com pacientes em uso de anticoagulante?

Nos pacientes em uso de varfarina, a conduta depende da contagem de plaquetas. Em pacientes com plaquetas >50.000/mm³, o INR deve ser vigiado e a contagem plaquetária deve ser monitorizada diariamente, sem necessidade de internação, unicamente, por esse fator. Quando a contagem plaquetária estiver <50.000 /mm³, o paciente deve ser internado. Se as plaquetas estiverem entre 30.000/mm³ e 50.000/mm³, a anticoagulação pode ser mantida, porém recomenda-se trocar a varfarina por heparina não fracionada. A heparina não fracionada é um anticoagulante com ação mais curta e mais fácil de ser revertida em caso de sangramento. A anticoagulação deve ser suspensa se a contagem plaquetária estiver abaixo de 30.000/mm³.

Em todos os cenários, a reversão da anticoagulação será realizada somente na presença de sangramento moderado ou grave.

Existem poucos estudos disponíveis sobre a contagem de plaquetas segura para manutenção ou suspensão de anticoagulação. Em um relato de caso realizado no Sri Lanka, a varfarina foi suspensa quando a contagem de plaquetas ficou abaixo de 100.000/mm³ e reiniciada quando acima de 50.000/mm³ [2].

Tabela 1
Meia vida dos anticoagulantes orais.
Meia vida dos anticoagulantes orais.

Também não há uma diretriz específica para manejo de anticoagulantes orais diretos (DOAC) na dengue. A decisão de manter o DOAC deve ser individualizada, considerando a gravidade da plaquetopenia e a indicação para anticoagulação. O MS orienta que em pacientes com plaquetas abaixo de 50.000/mm³, deve-se substituir o DOAC para heparina não fracionada endovenosa, após 24 horas da última administração do DOAC ou quando decorrido o período de 2 vezes a meia-vida dos medicamentos (veja tabela 1).

Quando internar por plaquetopenia?

A redução progressiva do número de plaquetas é um bom preditor da gravidade do paciente, quando acompanhada de aumento do hematócrito. No entanto, não há limite específico de contagem de plaquetas para indicar a hospitalização.

Em contrapartida, o MS recomenda contagem plaquetária >50.000/mm³ para alta hospitalar. Partindo dessa orientação, pode-se ponderar que valores de plaquetas abaixo de 50.000/mm³ provavelmente são indicativos de gravidade e consequente necessidade de internação. É necessário individualizar os valores de corte adequados para cada caso.

Quando transfundir plaquetas?

O MS recomenda considerar transfusão de plaquetas em pacientes com:

  • sangramento persistente não controlado, após correção dos fatores de coagulação e do choque;
  • plaquetopenia e INR >1,5 vezes o valor normal.

A diretriz de 2022 da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) não recomenda transfusão de hemocomponentes na presença de plaquetopenia [3].

Um estudo não randomizado realizado em Singapura avaliou a transfusão profilática em pacientes com contagem de plaquetas <20.000 /mm³ na ausência de sangramento, exceto petéquias, quanto a redução de hemorragia com repercussão clínica, tempo de internação e mortalidade [4]. Não houve diferença significativa na presença de sangramento com repercussão clínica entre o grupo que não recebeu transfusão e o grupo que recebeu. O grupo intervenção apresentou um tempo de internação hospitalar maior (mediana de 1 dia) e não houve diferença de mortalidade entre os dois grupos. Dados semelhantes foram encontrados em um estudo singapurense anterior [5].

Outro estudo realizado em Singapura, comparou suporte transfusional e suporte clínico versus apenas suporte clínico em pacientes com plaquetas ≤20.000/mm³ sem sangramentos. O desfecho avaliado foi presença de sangramento até o dia 7 ou até alta hospitalar.

Concluiu-se que a transfusão profilática de plaquetas não foi superior ao suporte clínico na prevenção de hemorragias e pode apresentar eventos adversos [6]. Esse dado é corroborado por um estudo randomizado no qual a transfusão de plaquetas não impediu o desenvolvimento de hemorragia grave nem reduziu o tempo para a cessação da hemorragia [7].

Um estudo indiano, com 1349 pessoas, demonstrou que 20% dos pacientes da amostra apresentaram manifestações hemorrágicas de gravidade variável. Os pacientes que apresentavam uma contagem de plaquetas inferior a 10.000/mm³ tiveram hemorragia significativa com risco à vida, sendo este valor de corte adotado para indicar transfusão de plaquetas [8].

Cristaloide ou coloide: qual é a solução de escolha?

Um estudo comparou o uso de ringer lactato contra dois coloides em crianças com dengue grave. A resposta a ressuscitação volêmica inicial com ringer lactato foi semelhante em relação aos dois coloides com efeitos adversos semelhantes [9]. Outro estudo não encontrou benefício quando comparou dois coloides contra NaCl 0,9% e ringer lactato em crianças com dengue [10].

Segundo a OPAS, comparando cristaloides e coloides, as evidências sugerem não existir diferença na mortalidade (não foram observados eventos em nenhum dos grupos nos quatro estudos incluídos), no risco de choque recorrente ou resistente ao tratamento (RR = 1,06; IC 95% 0,82-1,37) ou na sobrecarga de volume (RR = 1,01; IC 95%: 0,76-1,34). O uso de cristaloides reduz o risco de eventos adversos ou alérgicos relacionados à infusão quando comparados a coloides.

Outro ponto positivo é o custo dos cristaloides ser inferior ao custo dos coloides. Considerando os dados, a OPAS recomenda a utilização de cristaloides no tratamento inicial de pacientes com dengue grave.

O MS orienta que em pacientes com dengue grupo D com hematócrito em ascensão, mesmo após a reposição volêmica adequada com cristaloides, pode-se utilizar expansores plasmáticos como a albumina 0,5 a 1 g/kg.

Bulário

Antipsicóticos de Segunda Geração

Criado em: 08 de Abril de 2024 Autor: Ênio Simas Macedo

Os antipsicóticos de segunda geração, também conhecidos como atípicos, são frequentemente utilizados no tratamento de outros distúrbios neuropsiquiátricos além de esquizofrenia. Este tópico traz os principais aspectos desses fármacos para a prática clínica.

O que são os antipsicóticos de segunda geração e por que eles foram criados?

Os antipsicóticos, também chamados de neurolépticos, podem ser divididos em duas classes:

  • Antipsicóticos de primeira geração (ou típicos) - principais representantes: haloperidol (Haldol®), clorpromazina (Amplictil®) e levomepromazina (Neozine®).
  • Antipsicóticos de segunda geração (ou atípicos) - principais representantes: risperidona (Risperdal®), clozapina (Leponex®), quetiapina (Seroquel®), olanzapina (Zyprexa®), aripiprazol (Abilify®) e brexpiprazol (Rexulti®).

Uma das limitações dos fármacos antipsicóticos de primeira geração é a ocorrência de efeitos adversos extrapiramidais, como o parkinsonismo. Neste contexto, foram desenvolvidos os antipsicóticos de segunda geração que possuem uma incidência menor destes eventos.

O principal mecanismo de ação dos antipsicóticos de primeira ou segunda geração é o antagonismo dos receptores dopaminérgicos D2 no sistema nervoso central. Contudo, os antipsicóticos de primeira geração tem uma ligação mais intensa e duradoura a esses receptores. Por isso, mais frequentemente inibem vias dopaminérgicas nigroestriatais, associadas ao desenvolvimento de efeitos adversos extrapiramidais. Os antipsicóticos de segunda geração tem parte de sua eficácia explicada por um antagonismo dos receptores serotoninérgicos centrais 5-HT2A, sem necessidade de inibição tão pronunciada dos receptores D2.

O aripiprazol e brexpiprazol são exceções, pois atuam como agonistas parciais dos receptores D2. Devido a essa característica, se esses medicamentos forem utilizados em conjunto com antagonistas dos receptores D2, como durante a troca de antipsicóticos, pode ocorrer piora paradoxal de sintomas clínicos.

Uso clínico

Os antipsicóticos de segunda geração tem indicação formal de bula (on label) principalmente para transtornos psiquiátricos, com destaque para a esquizofrenia e outros transtornos psicóticos. Outras aplicações de bula dentro da psiquiatria são transtorno afetivo bipolar, irritabilidade em transtorno do espectro autista e tiques na síndrome de Tourette. O uso como terapia adjuvante em depressão unipolar refratária e no controle de agitação na doença de Alzheimer já foram explorados em tópicos do Guia (veja Depressão Resistente em Idosos e Manejo da Agitação na Demência).

Devido aos diversos efeitos dos antipsicóticos de segunda geração, é comum encontrar na prática clínica a utilização desses fármacos para várias condições não indicadas em bula (off label). As principais aplicações dos antipsicóticos de segunda geração sem indicação formal são:

  • Sintomas comportamentais das demências - como agitação, agressividade, delírios e alucinações;
  • Delirium hiperativo - haloperidol permanece como primeira opção, por possuir mais estudos e experiência clínica. Estudos pequenos sugerem não haver diferença significativa de eficácia entre o haloperidol e os antipsicóticos de segunda geração [1];
  • Agitação aguda;
  • Coreia na doença de Huntington;
  • Antieméticos - especialmente em pacientes em uso de quimioterapia ou em cuidados paliativos. O controle de sintomas foi discutido na revisão Controle Farmacológico de Sintomas.
  • Insônia;
  • Hiporexia.

Efeitos adversos

Alguns efeitos adversos dos antipsicóticos de segunda geração ocorrem por conta da ação em receptores específicos no sistema nervoso central e periférico. Nessa lógica, esses efeitos podem ser organizados em bloqueio dopaminérgico, histaminérgico e muscarínico.

O bloqueio dopaminérgico está ligado aos efeitos extrapiramidais como parkinsonismo, acatisia, distonia aguda e discinesia tardia. Risperidona e olanzapina têm maior risco, enquanto aripiprazol, clozapina e quetiapina são mais seguras nesse sentido. A ação antidopaminérgica também é responsável por hiperprolactinemia induzida por antipsicóticos.

Já o bloqueio histaminérgico responde pelos efeitos metabólicos e sedativos. Aumento de apetite, ganho de peso, hiperglicemia e dislipidemia podem ocorrer, sendo mais relacionados a olanzapina e clozapina. A sedação pode ser limitante para muitos pacientes e ocorre com mais frequência com quetiapina e olanzapina. O aripiprazol é o mais seguro em relação a esses efeitos, causando menos problemas metabólicos e menos sedação.

A ação de bloqueio em receptores muscarínicos é responsável pelos efeitos anticolinérgicos: boca seca, constipação, retenção urinária e visão turva. Nessa via também pode ocorrer tontura e risco aumentado de quedas, que podem ser graves em idosos.

Hipotensão ortostática pode ocorrer pelo bloqueio de receptores alfa-adrenérgicos. Alguns efeitos adversos, como prolongamento do intervalo QT, não possuem relação direta com bloqueios de receptores específicos.

Outros efeitos adversos dessa drogas são idiossincráticos, a exemplo de:

  • Síndrome neuroléptica maligna - caracterizada por hipertermia, rigidez muscular (que frequentemente envolve trismo), rabdomiólise, disautonomia e alteração do nível de consciência.
  • Neutropenia e agranulocitose - mais comum durante a titulação inicial de dose de clozapina. Devido a casos de agranulocitose grave, é recomendado que nos primeiros meses de uso da clozapina seja realizado hemograma semanal.
  • Miocardite - principalmente durante o início do uso da clozapina. Há casos também descritos com risperidona e quetiapina.

Existem indícios de aumento de mortalidade por todas as causas com o uso de antipsicóticos de segunda geração. A maioria das evidências sobre o assunto vem de estudos de pessoas idosas com sintomas neuropsiquiátricos de demências. Nessa situação, foi encontrado aumento de mortalidade a curto e longo prazo com o uso dessas drogas em ensaios clínicos [2, 3]. Alguns estudos mostraram que esse excesso de mortalidade estaria associado a doenças cerebrovasculares [4, 5], porém outros não [6-9]. Posteriormente, estudos encontraram que em populações mais jovens e com outras condições este risco também pode estar presente [10, 11]. O risco parece ser maior do que o estimado inicialmente, com NNH para mortalidade em 180 dias variando de 26 a 50 a depender da droga e com efeito dose resposta (quanto maior a dose, maior o risco) [12]. A recomendação é que esses medicamentos devem ter o benefício ponderado em relação ao risco, realizando a desprescrição sempre que possível e seguro.

Diferenças entre os antipsicóticos de segunda geração

A ação nos receptores varia entre os fármacos, justificando os seus diferentes perfis de eficácia e efeitos adversos (tabela 1). A análise dessas características permite uma escolha mais apropriada para cada situação clínica. Algumas peculiaridades de cada droga estão listadas abaixo:

Tabela1
Efeitos adversos selecionados dos antipsicóticos de segunda geração
Efeitos adversos selecionados dos antipsicóticos de segunda geração
  • Risperidona - popularmente chamado de "o mais típico dos atípicos". Possui menor custo, efeito antipsicótico em dose baixa e com menor ação sedativa. Como desvantagem, tem elevado risco de efeitos extrapiramidais.
  • Clozapina - muito eficaz para controle de psicose (considerado o mais eficaz) e muito baixo risco de efeitos extrapiramidais. Existe risco elevado de efeitos adversos metabólicos, hematológicos (agranulocitose), cardiológicos e antimuscarínicos.
  • Quetiapina - menor risco de efeitos extrapiramidais. Como desvantagens, é muito sedativo e tem pouca eficácia antipsicótica em doses baixas (a dose antipsicótica é de pelo menos 200 a 300 mg/dia).
  • Olanzapina - bom efeito antipsicótico em doses baixas. Tem efeitos adversos metabólicos e é muito sedativo.
  • Aripiprazol - Bom efeito antipsicótico em doses baixas, pouco sedativo e bom perfil metabólico, cardiovascular e extrapiramidal. O preço é um limitante, custando acima de R$150,00, por mês, valor em março de 2024.
  • Brexpiprazol - é o único com indicação formal para agitação na doença de Alzheimer e possui perfil de efeitos adversos similar ao aripiprazol [13]. A desvantagem é o preço, custando acima de R$200,00, valor em março de 2024.
Síndromes e Cenários

Doença de Behçet

Criado em: 08 de Abril de 2024 Autor: Luisa Sousa

A doença de Behçet é uma vasculite inflamatória multissistêmica caracterizada por uma evolução com períodos de remissões e recidivas. A doença pode acometer artérias, veias e capilares de diferentes diâmetros. Esse tópico explora a doença, inspirado em duas revisões recentes publicadas no New England Journal of Medicine e Lancet em fevereiro de 2024 [1, 2]

Epidemiologia e mecanismo

A maior incidência de doença de Behçet (DB) é entre adultos jovens entre 20 e 40 anos. Em relação às vasculites no Brasil, um estudo com centros do sul do país, encontrou a DB como vasculite mais prevalente (35% dos casos) e, quando analisados pacientes de dois estados nordestinos, a DB foi a segunda mais frequente [3].

A predisposição genética com o HLA B51 é bem estabelecida, ocorrendo em até 50% dos portadores da doença. As lesões de DB têm o predomínio de infiltrado neutrofílico nos vasos [1, 4].

Muitas vasculites acometem predominantemente vasos de um determinado tipo ou calibre. A DB não tem esse comportamento, podendo afetar veias e artérias de qualquer tamanho. Isso explica as manifestações variadas e os diferentes fenótipos clínicos.

Manifestações clínicas

As manifestações clínicas podem ser organizadas em sistemas: cutâneo-mucoso, articular, ocular, cardiovascular, neurológico e gastrointestinal, conforme descrito na tabela 1. As manifestações cardiovasculares estão associadas a maior mortalidade [1, 5].

Tabela 1
Manifestações clínicas da doença de Behçet
Manifestações clínicas da doença de Behçet

Manifestações cutâneo-mucosas

Úlceras orais estão presentes na maioria dos pacientes, com alguns estudos indicando ocorrência em 100% dos casos em algum momento da doença [6-8]. As úlceras são dolorosas e bem delimitadas com centro branco-amarelado e tamanho variável de milímetros até 2 cm. Normalmente são a primeira manifestação, demoram a desaparecer e não deixam cicatriz [4]. São difíceis de distinguir de estomatite aftosa recorrente apenas pela aparência, apesar de serem mais extensas e numerosas (veja a tabela 2 para diagnósticos diferenciais de úlceras de repetição) [9].

Tabela 2
Diagnósticos diferenciais de úlceras de repetição
Diagnósticos diferenciais de úlceras de repetição

As úlceras genitais normalmente são maiores que as orais e deixam cicatrizes em cerca de quase 70% dos casos. A investigação deve excluir outras causas de úlceras genitais como infecção por herpesvírus e doenças bolhosas. As lesões geralmente localizam-se nos grandes lábios nas mulheres e no escroto nos homens. Uma manifestação menos frequente é a epididimite com dor intensa e unilateral da bolsa escrotal [1, 4].

Lesões semelhantes à acne, com pápulas pustulosas e pseudofoliculite, são outro tipo de manifestação cutânea.

Manifestações articulares

As grandes articulações são afetadas em cerca de 50% dos pacientes com DB. Joelhos, tornozelos, punhos e cotovelos são acometidos de forma autolimitada e mono ou oligoarticular. A artralgia ou artrite pode ocorrer junto de entesite e não costuma ser destrutiva.

Manifestações oculares

Lesões oculares ocorrem em aproximadamente 50% dos pacientes e são mais frequentes nos primeiros anos da doença. O envolvimento é bilateral em 70 a 80% dos casos e a panuveíte é a manifestação mais comum. Uma alteração típica é a presença de secreção purulenta na câmara anterior - o hipópio [1].

Manifestações cardiovasculares

Os trombos podem ocorrer em sítios raros como seios venosos cerebrais e veia hepática/supra hepática. Este último sítio acometido pode levar à síndrome de Budd-Chiari [4].

Tabela 3
Acometimento vascular da doença de Behçet
Acometimento vascular da doença de Behçet

Casos mais graves estão associados a aneurismas da aorta e artéria pulmonar, trombose da artéria pulmonar e lesões das artérias coronarianas [5]. A tabela 3 resume as manifestações vasculares da DB.

Diagnóstico da doença de Behçet

A DB deve ser considerada em pacientes com úlceras orais recorrentes e manifestações sistêmicas. Úlceras genitais são mais específicas, porém menos sensíveis para o diagnóstico. Não existe um auto-anticorpo associado a DB, porém o teste da patergia pode auxiliar no diagnóstico.

Tabela 4
Critérios diagnósticos da doença de Behçet
Critérios diagnósticos da doença de Behçet

Os critérios diagnósticos da DB foram revisados em 2014 (tabela 4) e devem guiar a investigação clínica [10]. Em casos graves, com alta suspeição clínica, o tratamento deve ser instituído mesmo antes da confirmação pelos critérios diagnósticos.

Tratamento

As opções terapêuticas vão desde corticoide tópico e colchicina para o acometimento cutâneo e articular leve até a combinação de corticoide sistêmico em alta dose e drogas modificadoras de doença antirreumáticas (DMARDs) em casos graves. A tabela 5 agrupa os tratamentos de acordo com cada manifestação [1].

Tabela 5
Opções terapêuticas de acordo com o acometimento da doença de Behçet
Opções terapêuticas de acordo com o acometimento da doença de Behçet