Será que Tem Evidência?

Antibiótico para Sinusite

Criado em: 08 de Julho de 2024 Autor: Frederico Amorim Marcelino

Sinusite aguda é uma das causas mais comuns de procura ao pronto-socorro e um dos motivos mais frequentes para a prescrição inapropriada de antibióticos [1-3]. Nesse tópico serão discutidos os critérios diagnósticos e as indicações do uso de antibióticos na sinusite.

Critérios diagnósticos de sinusite

Sinusite aguda é a inflamação dos seios da face. O termo rinossinusite é preferido em algumas referências, pois frequentemente está associada a rinite. A diretriz da American Academy of Otorhinolaryngology (AAO) de 2014 sugere o uso de três sintomas para definir rinossinusite: rinorreia purulenta (anterior, posterior ou ambas) acompanhada de obstrução nasal, dor facial ou ambas [4]. Outros sintomas acontecem em menor frequência, como anosmia, febre, tosse, fadiga, dor dentária e plenitude auricular.

Tabela 1
Causas de rinossinusite
Causas de rinossinusite

A sinusite aguda pode ter causas infecciosas e não infecciosas. Dentre as causas infecciosas, a rinossinusite viral é a mais comum. Infecção bacteriana é mais comumente uma complicação de uma infecção viral, ocorrendo em 0,5 a 2% dos casos [5]. As outras causas de rinossinusite estão agrupadas na tabela 1.

Como diferenciar rinossinusite viral e bacteriana

A indicação de antibiótico em um quadro de sinusite aguda leva em consideração a diferenciação de rinossinusite viral e bacteriana.

Sintomas clínicos não são bons preditores para diferenciar entre rinossinusite aguda viral e bacteriana. Dor facial, congestão nasal e gotejamento pós-nasal acontecem nas duas condições [6]. Secreção purulenta (ou amarelada, esverdeada) não ocorre somente em infecções bacterianas, já que a coloração da secreção representa o grau de inflamação e não necessariamente a etiologia [7].

Radiografia ou tomografia de seios da face não são capazes de diferenciar a etiologia e não são recomendadas como rotina. A tomografia é bem indicada quando há suspeita de complicações ou investigação de causas não infecciosas [8, 9].

Tabela 2
Critérios diagnósticos de sinusite bacteriana
Critérios diagnósticos de sinusite bacteriana

Os critérios para diagnóstico de rinossinusite bacteriana possuem como fatores mais relevantes o tempo de duração e/ou a mudança de padrão dos sintomas. A tabela 2 agrupa os critérios para o diagnóstico de rinossinusite bacteriana aguda segundo as diretrizes da AAO e da Infectious Diseases Society of America (IDSA) [8, 10].

Benefícios e indicações de antibióticos para sinusite

Em uma revisão sistemática e meta-análise da Cochrane de 2018, foram identificados 15 estudos sobre o tratamento de rinossinusite com antibióticos [11]. Os desfechos avaliados foram falha clínica, duração e gravidade de sintomas e efeitos adversos. Falha clínica foi definida como exacerbação ou manutenção de sintomas, complicações ou necessidade de introdução, ou prolongamento de antibiótico. Comparado com placebo, o uso de antibióticos foi associado com menor falha clínica e menor tempo de sintomas. O tamanho do efeito foi pequeno, com um NNT de 19. Também houve aumento de efeitos adversos nos pacientes que usaram antibióticos, com NNH de 18.

No estudo, 46% dos casos melhoraram sem antibióticos após uma semana e 64% após duas semanas. Outras duas meta-análises publicadas em 2008 pela Lancet chegaram a resultados semelhantes [6, 12].

Existe dúvida se o uso de antibióticos diminui taxas de complicações. Em alguns estudos retrospectivos o uso de antibióticos não foi associado a menor número de complicações [13, 14]. Contudo, um estudo encontrou uma fraca associação entre uso de antibióticos e menor chance de desenvolver abscesso cerebral, com NNT de 19.988 [15].

As evidências apontam que o uso de antibióticos no tratamento de rinossinusite aguda traz um benefício pequeno e está associado a efeitos adversos. A maioria dos pacientes apresenta melhora espontânea, tornando o uso de antibióticos ainda mais controverso.

Os riscos e benefícios do uso de antibióticos devem ser discutidos diante do diagnóstico de sinusite bacteriana aguda [10]. Ao diagnóstico, caso o paciente possua facilidade de retorno para reavaliação, pode ser considerada apenas observação com sintomáticos por mais sete dias. Na ausência de melhora, realizar a prescrição de antibiótico. No entanto, se a reavaliação for inviável, deve-se considerar o uso de antibióticos quando o diagnóstico é feito.

Uma estratégia estudada nesse cenário é a da prescrição adiada (delayed antibiotics). Nesse caso, o paciente recebe uma receita de antibiótico com a orientação de iniciar o uso caso não melhore com sintomáticos em um período pré-determinado. Em uma revisão sistemática do British Medical Journal comparando a prescrição, a duração dos sintomas foi maior com o uso da prescrição adiada, mas a diferença foi pequena (11,4 dias vs 10,9 dias) [16]. A taxa de novas consultas foi menor com a prescrição adiada.

Escolha do antibiótico e duração do tratamento

Os microrganismos identificados mais frequentemente nas rinossinusites bacterianas são o Streptococcus pneumoniae, Moraxella catarrhalis e Haemophilus influenzae [17, 18]. Não há dados sobre o perfil de resistência dessas bactérias em pacientes com sinusites no Brasil. Contudo, está disponível o boletim de vigilância das pneumonias e meningites bacterianas, publicado anualmente pelo Instituto Adolfo Lutz, também conhecido como Sistema Regional em Vacinas (SIREVA). Considerando que as amostras são de pneumonia e meningite, existe dúvida se os dados podem ser extrapolados para sinusite. As taxas de resistência de Streptococcus e Haemophilus estão na tabela 3.

Tabela 3
Resistência de Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae segundo o SIREVA
Resistência de Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae segundo o SIREVA

Amoxicilina ou amoxicilina com clavulanato são os antibióticos inicialmente recomendados para o tratamento de sinusite bacteriana aguda, considerando menor taxa de efeitos adversos. A escolha entre os dois é controversa. O uso do clavulanato oferece cobertura para Haemophilus influenzae produtor de beta-lactamase. A diretriz de 2012 da IDSA sugere o uso de amoxicilina com clavulanato em todos os pacientes, justificado por dados dos Estados Unidos (prevalência de 27 a 43% de Haemophilus influenzae produtor de beta-lactamase). Já a diretriz da AAO sugere o uso de amoxicilina com clavulanato apenas em pacientes com maior risco de resistência (tabela 3).

Não há evidência clínica de superioridade entre amoxicilina, amoxicilina com clavulanato e outros antimicrobianos [19]. Em pacientes com alergia a penicilina, pode ser prescrito doxiciclina, levofloxacino e moxifloxacino. Macrolídeos não são recomendados devido a altas taxas de resistência.

O tempo de tratamento de cinco a sete dias é semelhante a tratamentos mais prolongados [10].

Para pacientes com piora dos sintomas a despeito do tratamento antimicrobiano ou sem melhora clínica após sete dias de tratamento, diagnósticos diferenciais e complicações devem ser investigados. Pode ser considerada a troca de antimicrobiano nesses casos. Amoxicilina com clavulanato em dose aumentada (dois comprimidos de 875/125 mg a cada 12 horas), levofloxacino e doxiciclina são opções.

Sintomáticos na sinusite

Anti-inflamatórios e analgésicos simples, como dipirona e paracetamol, podem ser recomendados para alívio sintomático. Antialérgicos podem melhorar sintomas em pacientes com histórico de rinite alérgica, mas existe dúvida sobre o benefício em todas as rinossinusites [20].

Corticoides intranasais estão associados a diminuição de sintomas e recomendados pelas diretrizes da IDSA e da AAO [21]. Corticoides sistêmicos isoladamente não tem papel na sinusite aguda [22]. Quando prescritos junto a antibióticos, estão associados a alguma diminuição de sintomas, com um NNT de sete e incerteza por limitações metodológicas. Os efeitos colaterais associados aos corticoides sistêmicos limitam seu uso em uma doença majoritariamente autolimitada [23].

Como Fazer

Bloqueador Neuromuscular na Intubação Orotraqueal

Criado em: 08 de Julho de 2024 Autor: Lucca Cirillo

Os bloqueadores neuromusculares (BNM) são utilizados para indução de paralisia muscular na intubação de sequência rápida (ISR). Este tópico revisa o uso do BNM na ISR e novas evidências sobre a escolha de cada agente.

Bloqueadores neuromusculares na intubação de sequência rápida

Os BNM são utilizados na ISR para indução de paralisia muscular, sempre associados a um agente sedativo (veja mais em Etomidato na Intubação de Sequência Rápida). O sedativo é obrigatório para evitar a paralisia muscular com preservação do nível de consciência, o que resultaria em sofrimento ao paciente [1].

Os BNM podem ser divididos em duas classes:

  • BNM despolarizante: o principal é a succinilcolina. Sua ação ocorre pela ligação com receptores nicotínicos na junção neuromuscular. Despolariza a membrana, o que pode causar fasciculações, e em seguida há uma fase sustentada de refratariedade que leva à paralisia muscular.
  • BNM não despolarizante: o rocurônio é o BNM não despolarizante mais utilizado na ISR. Sua ação ocorre pelo antagonismo competitivo da acetilcolina nos receptores muscarínicos, prevenindo a contração muscular. Outros exemplos nessa classe são vecurônio, pancurônio, atracúrio e cisatracúrio. Esses agentes são utilizados para bloqueio muscular prolongado, em pacientes críticos sob ventilação mecânica, sendo pouco utilizados para ISR pelo maior tempo para início de ação, geralmente acima de dois minutos.

Indicações e escolha do bloqueador neuromuscular (BNM)

O principal benefício do BNM na ISR é aumentar a taxa de sucesso na primeira tentativa. Esse benefício é observado tanto para laringoscopia direta como para videolaringoscopia [2]. O BNM também é capaz de melhorar a visualização laríngea durante o procedimento, facilitar a ventilação bolsa-válvula-máscara e reduzir a taxa de hipoxemia e trauma de via aérea (como lesão de laringe, cordas vocais e lesões dentárias) [3, 4].

A diretriz da Society of Critical Care Medicine (SCCM) recomenda o uso de BNM sempre que um agente sedativo for utilizado [5]. Essa recomendação também é endossada pelas diretrizes da Sociedade Europeia de Anestesia e Jornal Britânico de Anestesia [4, 6].

Tanto a succinilcolina como o rocurônio são utilizados na ISR pela vantagem do rápido início de ação, fornecendo condições ideais de intubação em até 60 segundos. Na ausência de contraindicações a um agente específico, não há preferência na escolha do BNM.

Uma das preocupações com o uso da succinilcolina são os efeitos adversos, principalmente a hipercalemia. Sugere-se que a succinilcolina seja evitada em pacientes que tenham fatores de risco para os efeitos adversos. A tabela 1 resume as principais contraindicações de bula ao uso da succinilcolina.

Tabela 1
Principais contraindicações ao uso da succinilcolina
Principais contraindicações ao uso da succinilcolina

O uso do rocurônio na ISR aumentou nas últimas duas décadas, tendo em vista o perfil de segurança favorável. Seu principal efeito adverso é a ocorrência de reações alérgicas ou anafilaxia [7, 8]. Em um cenário de emergência e desconhecimento de dados da história do paciente (comorbidades e diagnóstico), optar pelo rocurônio é uma escolha segura.

Alguns profissionais podem ter receio de usar o BNM durante a ISR por conta da possibilidade de não conseguirem intubar e não conseguirem ventilar o paciente (não intubo, não ventilo ou NINO). Esta preocupação não justifica evitar o BNM, por algumas razões:

  • Este é um cenário raro na prática clínica, com incidência de 3,9 para cada 1000 intubações na emergência [9]. A diretriz da SCCM considera que os benefícios do uso do BNM superam os riscos de um evento com baixa incidência [5].
  • Mudanças na técnica do procedimento, como posicionamento, pré-oxigenação e o próprio uso do BNM têm melhorado a eficácia e segurança da ISR.
  • A dose de sedativo utilizada na ISR já é suficiente para reduzir o drive respiratório e deixar o paciente hipopneico ou apneico.
  • Caso o BNM não seja feito e ocorra uma situação de NINO, a necessidade de uma intervenção para a via aérea ainda existe. A condição original que motivou a intubação continua presente e não foi resolvida. Confiar em alguma atividade respiratória residual e perseverar em uma laringoscopia subótima que já falhou pode atrasar a terapia adequada, como dispositivos extraglóticos (se ainda não tiverem sido tentados) ou via aérea cirúrgica.

Quando se prevê uma via aérea difícil, pode ser utilizada uma técnica de intubação acordada [10]. Várias técnicas são descritas para uma intubação acordada, tendo todas em comum o fato de a intubação ocorrer enquanto o paciente está respirando, utilizando anestésicos tópicos e/ou algum grau de sedação, geralmente com um fibroscópio ou videolaringoscópio [11, 12]. Um BNM não é utilizado nessas técnicas. Nem toda via aérea difícil precisa de intubação acordada, sendo a ISR utilizada em muitos casos. A intubação acordada deve ser considerada quando o operador mais experiente avalia que não vai conseguir intubar e ventilar, a intubação não é extremamente urgente permitindo tempo para planejamento e alguém de equipe é capacitado para tal, especialmente se o paciente não é capaz de tolerar breves segundos de hipoxemia.

Como fazer bloqueador neuromuscular na sequência rápida: doses e reversor

A dose de succinilcolina para ISR é de 1,0 - 1,5 mg/kg. O tempo de latência até o início de efeito é de aproximadamente 45 segundos. Doses menores (0,6 mg/kg) podem ser utilizadas em pacientes instáveis ou críticos, fornecendo condições satisfatórias de intubação. A duração da paralisia é em torno de 6 a 10 minutos [13]. Em pacientes obesos, é sugerido utilizar o peso real para cálculo da dose [14].

Não há dados acerca da segurança de doses repetidas, em cenários onde haja dificuldades durante a intubação. Caso o procedimento exceda o tempo de bloqueio da succinilcolina e sejam necessárias múltiplas doses (a depender do tempo da intercorrência), é válido considerar o uso do rocurônio, já que este fornece um tempo de bloqueio superior.

Existe controvérsia em relação à dose ideal de rocurônio na ISR. Uma revisão da Cochrane indica equivalência nas doses entre rocurônio 0,9-1,2 mg/kg e succinilcolina 1 mg/kg, quanto à chance de intubação em primeira tentativa [15]. Entretanto, doses de 0,6 - 0,7 mg/kg foram inferiores quando comparadas à succinilcolina 1 mg/kg. Como uma ampola de rocurônio tem 50 mg no total, em adultos com mais do que 55 kg, seria necessário mais do que uma ampola para atingir o bloqueio comparável à succinilcolina.

Essa revisão não incluiu um estudo publicado em 2022 que identificou maior sucesso na intubação em primeira tentativa para doses ≥ 1,4 mg/kg [16]. Doses acima de 1,2 mg/kg ainda não figuram como recomendação em diretrizes, mas este estudo sugere que doses maiores do que as usualmente recomendadas podem ser necessárias para criar condições de intubação equivalentes à succinilcolina. Em pacientes obesos, a dose do rocurônio pode ser calculada pelo peso ideal.

O tempo até a paralisia muscular com rocurônio depende da dose utilizada, porém costuma ser maior do que o da succinilcolina. A duração de ação da paralisia pelo rocurônio é de 73 minutos em média. Para evitar paralisia muscular com preservação da consciência, é obrigatória a associação de sedação após o procedimento.

O rocurônio dispõe de antídoto, o sugamadex. Ele é mais utilizado na anestesia, por promover uma rápida e eficiente reversão do bloqueio neuromuscular. O papel no cenário de emergência é de permitir um exame neurológico precoce após a intubação com rocurônio, especialmente em casos de trauma craniano, AVC e estado epiléptico [17, 18].

Tenecteplase no AVC Isquêmico

Criado em: 08 de Julho de 2024 Autor: João Urbano

A trombólise intravenosa é a terapia de reperfusão mais utilizada e disponível para o tratamento do acidente vascular cerebral isquêmico agudo. O uso vem sendo consolidado há aproximadamente 30 anos em estudos com o trombolítico alteplase. A tenecteplase é um trombolítico com a vantagem de ser administrado em bolus e tem sido estudado nesse contexto. Esse tópico revisa a trombólise intravenosa no AVC e traz as evidências de tenecteplase.

Quais as indicações e contraindicações para trombólise intravenosa no AVC agudo?

A trombólise intravenosa deve ser indicada em todos os pacientes com suspeita de AVC isquêmico com início dos sintomas em até 4,5h, após exclusão de sangramento intracraniano pela tomografia de crânio [1].

Tabela 1
Contraindicações absolutas à trombólise endovenosa
Contraindicações absolutas à trombólise endovenosa

O paciente deve ser avaliado inicialmente com monitorização de sinais vitais e avaliação de glicemia capilar. A anamnese da suspeita de AVC isquêmico se baseia principalmente em identificar contraindicações para a trombólise intravenosa. Todos os aspectos expostos na tabela 1 devem ser especificamente perguntados ao paciente e aos familiares. Algumas situações não configuram contraindicações absolutas, mas merecem atenção por maior risco de sangramento ou por não terem a segurança bem estabelecida nos estudos (tabela 2).

Tabela 2
Precauções para trombólise em situações especiais
Precauções para trombólise em situações especiais

Quando a trombectomia mecânica também é indicada, as duas terapias devem ser realizadas. Ainda não há evidências que respaldem a realização de trombectomia mecânica como terapia única quando também existe indicação de trombólise. Habitualmente, a trombólise será finalizada antes do paciente ter acesso ao centro com trombectomia e estar na sala de procedimento. Assim, a recomendação é de realizar a trombólise e encaminhar o paciente para o centro de referência com disponibilidade de trombectomia.

Quando indicar trombólise quando o início dos sintomas é desconhecido ou após 4,5 horas?

Quando o início dos sintomas é desconhecido, porém o quadro foi reconhecido a menos de 4,5 horas, deve-se utilizar a avaliação por ressonância magnética para avaliar se ainda assim existe indicação de trombólise. Esses pacientes devem ser submetidos à RM conforme o protocolo do estudo WAKE-UP [2]. Por mais que a disponibilidade de RM seja limitada, conhecer essa alternativa é importante para que pacientes com possibilidade de tratamento possam ser encaminhados para serviços de referência.

A avaliação é baseada em duas sequências da RM:

  • Difusão (ou DWI, de diffusion weighted imaging): primeira sequência a se alterar em casos de AVC agudo, dentro dos primeiros minutos. No AVC, o achado esperado é a restrição à difusão no território da artéria acometida.
  • FLAIR (de fluid attenuated inversion recovery): sequência que se altera após algumas horas do início dos sintomas. Cerca de 30 a 50% terão alteração após 4 horas do início dos sintomas e praticamente todos os pacientes terão alteração presente após 7 horas [3].

Os pacientes com horário do início dos sintomas desconhecido elegíveis à trombólise são aqueles que chegam ao hospital em menos de 4,5 horas do reconhecimento dos sintomas e apresentam difusão alterada com FLAIR normal.

Em caso de pacientes que chegam ao hospital após 4,5 horas do início dos sintomas, há ainda uma possibilidade de indicação de trombólise baseada nos estudos EXTEND e ECASS-4 [4, 5]. Nesses trabalhos, foram utilizados métodos de neuroimagem avançada utilizando análise de perfusão. O EXTEND utilizou um protocolo de TC, enquanto o ECASS-4 utilizou a RM. A análise utilizada por esses estudos foi a partir de softwares específicos de interpretação entre o volume de infarto (core isquêmico) e a área de penumbra. Os pacientes elegíveis para trombólise eram os que possuíam pequeno volume de infarto em comparação à área de penumbra (mismatch).

Fluxograma 1
Resumo das terapias de reperfusão e sua indicação baseada no tempo de início dos sintomas
Resumo das terapias de reperfusão e sua indicação baseada no tempo de início dos sintomas

Esses recursos de neuroimagem avançada não são disponíveis na maioria dos hospitais brasileiros. No entanto, pacientes que não seriam elegíveis a terapias de reperfusão habituais devem ser transferidos para centros de referência com essas possibilidades de tratamento.

Como realizar e acompanhar a trombólise no AVC

A dose total de alteplase para trombólise no AVC é de 0,9 mg/kg, sendo 10% da dose total em bolus IV durante 1 minuto e os outros 90% da dose total IV durante 1 hora. A dose máxima é de 90 mg.

Ex: paciente de 80 kg - Dose total: 72 mg (7 mg em bolus IV durante 1 minuto seguido de 65 mg em bomba de infusão em 1 hora).

Saiba como é a apresentação do medicamento e como realizar a diluição de maneira correta no vídeo abaixo.

Durante a infusão do trombolítico, o paciente deve ser mantido em ambiente com monitorização contínua (UTI, unidade de AVC ou sala de emergência). O trombolítico deve ser administrado em um acesso venoso calibroso e exclusivo para a alteplase.

Os principais pontos de atenção são a pressão arterial e a pontuação na escala de NIHSS. O descontrole da pressão arterial é o principal fator relacionado a sangramentos intracranianos associados à trombólise. A avaliação seriada da escala de NIHSS é uma forma de sistematizar o exame neurológico, permitindo a identificação precoce de piora clínica que pode ser decorrente de sangramento associado à trombólise.

Deve-se registrar as pontuações da escala de NIHSS e a pressão arterial do paciente em cada horário desde o início da infusão do trombolítico. O acesso venoso da alteplase deve ser exclusivo para essa droga, pois outras infusões no mesmo acesso podem atrapalhar a administração contínua necessária para a trombólise.

Tabela 3
Cuidados durante a infusão do trombolítico no AVC agudo
Cuidados durante a infusão do trombolítico no AVC agudo

Há espaço para a Tenecteplase?

A tenecteplase (TNK) é alvo de muitos estudos recentes para trombólise em AVC. Além de ser mais uma opção no tratamento, a TNK é um fármaco mais específico para fibrina, com sinalização em alguns artigos de melhor desempenho em oclusão de grandes vasos [6]. Outra vantagem é a administração em bolus, que é mais adequada para o ambiente de emergência [7]. Isso evita problemas de interrupção de administração por perda de acesso ou mau funcionamento das bombas de infusão, comumente vistos com a alteplase.

Recentemente, foi publicado o estudo TRACE-2, envolvendo 1430 pacientes em 53 centros da China [8]. O estudo foi desenhado para demonstrar não-inferioridade da TNK frente à alteplase em pacientes com AVCi elegíveis para trombólise intravenosa, mas inelegíveis para trombectomia mecânica.

Os pacientes foram randomizados para o grupo TNK 0,25 mg/kg (dose máxima 25 mg) ou alteplase 0,9mg/kg (dose máxima 90 mg) com desfecho primário de funcionalidade em 90 dias (escala de Rankin modificada de 0 a 1). A TNK teve sucesso em se mostrar não-inferior à alteplase e não houve diferença significativa entre mortalidade ou sangramentos intracranianos sintomáticos.

O TRACE-2 se junta a estudos já publicados como AcT para consolidar a não inferioridade da TNK no tratamento o AVC isquêmico dentro das 4,5 h do início dos sintomas [9]. Esse tema deve surgir como novidade nas próximas diretrizes, mas ainda faltam etapas para início do uso clínico no Brasil. As principais são a regulamentação da ANVISA e a chegada das ampolas com dosagem específica para o uso.