Acesso Venoso Central - Complicações

Criado em: 15 de Julho de 2024 Autor: Gabriel Paes

Estima-se que 27 milhões de cateteres venosos centrais (CVC) sejam puncionados anualmente no mundo. A inserção e manutenção desses dispositivos têm complicações que podem levar a desfechos graves. Em 2024, foi publicada uma revisão sistemática e meta-análise no Journal of the American Medical Association (JAMA) avaliando as complicações associadas aos CVC em estudos de 2015 a 2023. Este tópico revisa as complicações, sítios de punção, uso de ultrassom e traz os resultados do estudo [1].

Complicações e sítios de punção

As complicações associadas ao cateter venoso central (CVC) podem ser divididas em relacionadas à punção e relacionadas ao uso do cateter, conforme a tabela 1.

Tabela 1
Complicações associadas a cateter venoso central
Complicações associadas a cateter venoso central

Como os pacientes podem ter mais de uma complicação, os riscos se sobrepõem. Ao agrupar as complicações mais graves (canulação arterial, pneumotórax, trombose venosa profunda e infecção de corrente sanguínea relacionada ao cateter), o estudo do JAMA encontrou que 30 a cada 1.000 pacientes (3%) são afetados por esses eventos durante punção ou uso de um CVC [1]. O risco é considerável e mostra que, apesar dos avanços como uso de ultrassonografia e bundles de prevenção de infecção, deve-se ponderar sobre a indicação do CVC antes de submeter o paciente a este risco.

Canulação arterial e punção arterial são eventos diferentes. A punção arterial é um evento relativamente comum, sendo caracterizada pela penetração inadvertida da parede arterial pela agulha, enquanto a canulação arterial é mais rara e grave, ocorrendo quando a artéria é dilatada e o cateter é colocado dentro da luz da artéria. Em casos de canulação arterial, a diretriz da Sociedade Americana de Anestesiologia de 2020 recomenda que o cateter seja mantido no lugar e a cirurgia vascular consultada [2].

Os principais sítios de punção são as veias jugular, subclávia e femoral. A escolha do sítio depende da anatomia e do risco de complicação de cada local. Um importante estudo encontrou menos falha de punção na veia jugular em comparação a subclávia, porém a revisão sistemática do JAMA não encontrou diferença estatística nesse desfecho [3].

Uma das principais complicações que difere em relação ao sítio é o pneumotórax. O acesso na subclávia é o que está mais relacionado com pneumotórax, apresentando 7,8 eventos para cada 1000 CVC. Em comparação, o sítio jugular apresentou 1,9 eventos a cada 1000 CVC. Trabalhos prévios a essa meta-análise já mostravam maior incidência de pneumotórax associado ao sítio de subclávia [4].

Em relação à infecção de corrente sanguínea associada a cateter (ICS-AC), há controvérsia sobre o sítio com menor risco. Tradicionalmente, o acesso femoral era considerado como o de maior incidência de ICS-AC, e o acesso subclávio o de menor [5, 6]. Estudos mais recentes tem encontrado diferenças cada vez menores entre os sítios em relação a este desfecho [3, 7]. A revisão do JAMA não encontrou diferença estatística entre os sítios na incidência de ICS-AC (tabela 1).

Ultrassom para guiar as punções

O uso de ultrassonografia (USG) durante a punção é prática diária de boa parte dos serviços onde esse recurso é disponível. A Sociedade Americana de Anestesiologia e o Colégio Americano de Cirurgiões recomendam fortemente a punção guiada por USG, inclusive com visualização estática prévia da anatomia vascular do paciente e uso durante o procedimento para guiá-lo [2, 8].

Na meta-análise do JAMA, o uso de USG reduziu principalmente a punção arterial (13,5 vs 68,8/1.000) e pneumotórax (4,2 vs 21,8/1.000). Parece haver menor incidência de falha de punção e infecção de corrente sanguínea, porém sem significância estatística. Analisando o uso de USG exclusivamente em sítio jugular, a incidência de pneumotórax cai para 0,4/1.000, em comparação com 9,9/1.000 sem USG.

A técnica de punção de cateter venoso central com USG foi revisada neste vídeo sobre passagem de cateter venoso central.

Outros tipos de acesso e indicações

A definição de cateter venoso central envolve a inserção de um cateter nos vasos jugular, subclávia, axilar ou femoral com a ponta do cateter posicionado em um vaso central - veia cava superior ou inferior. Existem outros tipos de cateteres com indicações diferentes (figura 1).

Figura 1
Tipos de acessos venosos
Tipos de acessos venosos

O midline catheter, ou cateter de linha média, é um cateter de inserção periférica, antecubital, cuja ponta é posicionada na veia cefálica ou basílica, inferior à região axilar. A diferença desse cateter para o cateter periférico convencional é o tamanho (3 a 6 cm no periférico convencional vs 8 a 25 cm do cateter de linha média), além das indicações [9, 10]. Enquanto o cateter periférico deve ser utilizado para infusões de curta duração, por até seis dias, o cateter de linha média pode ser utilizado até quatro semanas. Não é recomendado uso de substâncias vesicantes (quimioterapia, droga vasoativa por longos períodos, dentre outros) em nenhum dos dois, pelo risco de flebite.

Outro dispositivo muito utilizado é o peripherally inserted central catheter (PICC), ou cateter central de inserção periférica, que é um cateter inserido em vasos periféricos do braço (veias intermédia, cefálica ou basílica) cuja ponta se localiza na veia cava superior, próxima à entrada do átrio direito [9]. Como a saída do cateter é de localização central, é um cateter que tolera substâncias vesicantes, e pode ser utilizado por longos períodos. A recomendação é de se escolher o cateter de PICC quando a previsão de infusão supere 14 dias, podendo ser utilizado por meses (dando-se preferência ao período de 14 a 31 dias). O PICC pode traumatizar a veia e está associado a trombose com um risco maior que o CVC convencional [11, 12]. Algumas sociedades orientam evitar esses dispositivos em pacientes com doença renal crônica, visando preservar o fluxo venoso para a confecção futura de fístula arteriovenosa para hemodiálise [9, 13].

Os cateteres centrais podem ser tunelizados ou não tunelizados. Os não tunelizados são inseridos diretamente no vaso (jugular, subclávia, femoral) e seguem para uma veia central. Já os tunelizados (conhecidos também como Permcath®) fazem um trajeto subcutâneo antes da inserção no vaso, formando um capa de fibrose local no balonete, cuja principal função é redução de biofilme e de infecções relacionadas ao cateter. Existem também os cateteres port ou implantes port (conhecidos também como Port-a-Cath), que possuem um reservatório subcutâneo na região do tórax, que é conectado ao cateter para infusão de drogas vesicantes no geral.

A principal diferença entre os três cateteres é o tempo de uso recomendado, com algumas particularidades de uso. Os cateteres centrais convencionais devem ser utilizados no máximo 14 dias, geralmente em contexto hospitalar de curta duração para substâncias vesicantes ou falha de acesso periférico. O Permcath® pode ser usado de semanas a meses, sendo um dos usos mais comuns a hemodiálise em pacientes crônicos. Já o Port-a-Cath pode ser utilizado por anos e tem papel importante em pacientes oncológicos para quimioterapia [9].

Síndromes e Cenários

Herpes Simples

Criado em: 15 de Julho de 2024 Autor: Raphael Gusmão Barreto

A infecção pelo herpes simples é comum e pode recorrer. Este tópico revisa a apresentação clínica, diagnóstico e tratamento das infecções pelos vírus do herpes simples HSV1 e HSV2.

Manifestações clínicas e história natural

A doença pelos vírus herpes simples (HSV1 e HSV2) divide-se em primoinfecção e reativações (flair). Considerava-se que o HSV1 acometia exclusivamente a região orolabial e o HSV2 a região genital, mas essa diferenciação tem sido questionada com os estudos atuais. Ambos os sorotipos podem afetar qualquer compartimento, porém há, de fato, predileção do HSV1 pela região orolabial e do HSV2 pela região genital [1].

A primoinfecção em região orolabial costuma se manifestar na infância com lesões ulceradas exsudativas em lábios, mucosa bucal (gengivoestomatite herpética) e faringite. Pode ocorrer febre e linfadenopatia cervical [2]. A reativação nesta região se apresenta como lesões labiais vesiculares dolorosas, precedidas em cerca de 80% dos casos por sintomas prodrômicos como dor e parestesias até 24 horas antes [3].

Em região genital, a primoinfecção herpética ocorre no início da vida sexual e na maioria das vezes é assintomática. Quando sintomática, apresenta pápulas, vesículas, úlceras dolorosas, fissuras, irritação vulvar e/ou disúria, com duração média de 10 a 15 dias. Sintomas sistêmicos estão presentes em cerca de metade dos casos, com cefaleia, mialgia, mal-estar e, raramente, febre [4]. Pacientes previamente infectados pelo HSV1 podem sofrer primoinfecção por HSV2, normalmente com sintomas mais brandos. A reativação genital é precedida por sintomas prodrômicos em metade dos pacientes e a duração e a intensidade dos sintomas tende a ser menor nas recorrências [5].

Tabela 1
Outras manifestações do herpes simples
Outras manifestações do herpes simples

Manifestações cutâneas também podem ocorrer. Algumas manifestações estão reunidas na tabela 1. Pacientes com imunossupressão tem manifestações sistêmicas com maior frequência (tabela 1).

Diagnóstico

O diagnóstico clínico pode ser realizado baseado na apresentação sindrômica clássica de erupções vesiculares dolorosas orais ou genitais. A abordagem sindrômica para diagnóstico e tratamento na população geral é um método validado e preconizado pelo Ministério da Saúde e OMS [6, 7].

Em apresentações clínicas atípicas pode ser necessário confirmar o diagnóstico com exames complementares. A reação em cadeia de polimerase em tempo real (PCR) é um exame molecular de detecção do HSV por meio de swab da ferida. Possui especificidade próxima a 100% e sua sensibilidade é melhor em lesões mais recentes (< 5 dias), idealmente ainda em fase de vesículas [8].

O esfregaço com coloração de Tzanck consegue demonstrar as alterações citopáticas do HSV em raspado de lesões genitais ativas, no entanto, possui sensibilidade de 60 a 80%. O esfregaço de Tzanck não diferencia o efeito citopático do HSV e do vírus varicella-zoster [9, 10].

A sorologia para HSV tem papel controverso. O IgM para HSV não possui utilidade diagnóstica. O IgG para o HSV1 não é recomendado, já que a maioria da população possui anticorpos adquiridos pela infecção por via oral durante a infância. Contudo, para HSV2 há duas possíveis utilidades da sorologia:

  • Em um episódio compatível com herpes em que há dúvida diagnóstica, a positivação do IgG para HSV2 12 semanas após o quadro sugere o diagnóstico [7]
  • Em episódios recorrentes ou atípicos com exame molecular negativo, um IgG para HSV2 positivo reforça a hipótese de infecção

Não se sabe quanto tempo os títulos de anticorpos permanecem positivos após a infecção [11]. O rastreio com sorologia para HSV na população geral não é recomendado [12].

Tratamento

O tratamento antiviral sistêmico é recomendado para a maioria dos pacientes com sintomas agudos, seja em primoinfecção ou reativação. O benefício é de controle parcial dos sintomas e redução da duração dos episódios, principalmente se iniciado nas primeiras 72 horas. Há três antivirais aprovados: aciclovir, valaciclovir e famciclovir. Todos têm eficácia similar, porém não conseguem erradicar os vírus latentes [12-14].

No SUS, o aciclovir é a medicação recomendada e disponível em comprimidos de 200 mg. O uso de outros antivirais (valaciclovir e famciclovir) permite melhor comodidade posológica, porém com custos mais elevados. O tratamento pode ser realizado na primoinfecção, reativação e para supressão contínua. As doses e durações são diferentes conforme a indicação (tabela 2).

Tabela 2
Esquemas de tratamento das infecções por herpes simples
Esquemas de tratamento das infecções por herpes simples

O tratamento antiviral tópico (pomada de aciclovir) não possui benefício clínico e não é recomendado [15, 16].

Manejo de recorrência

A maioria dos indivíduos apresenta ao menos um episódio de recorrência após a primoinfecção. As principais diretrizes consideram como herpes recorrente quando há mais de 4 a 6 episódios por ano [7, 12, 15]. O herpes labial recorrente é comum, com prevalência estimada de 18 a 37% na população geral [16].

A terapia antiviral para os casos de recorrência pode ser feita de duas formas: tratamento episódico e tratamento supressivo crônico. A tabela 2 resume as opções. Enquanto o tratamento episódico reduz intensidade e duração dos sintomas em cada reativação, o tratamento supressivo contínuo consegue reduzir a frequência das recorrências. Estima-se uma redução de 70 a 80% dos episódios com a terapia supressiva crônica, com melhor qualidade de vida em comparação ao tratamento episódico. O tratamento contínuo parece se manter ativo a longo prazo, com raros episódios de emergência de resistência. Não é necessário monitorar eventos adversos por serem drogas extremamente seguras, conforme diretriz do CDC [12, 17].

A escolha entre os dois esquemas deve ser feita em conjunto com o paciente, considerando o impacto na qualidade de vida em cada episódio. Se ocorrerem mais de 6 episódios por ano, a supressão crônica deve ser considerada. A decisão de manter o tratamento deve ser reavaliada anualmente.

Betabloqueadores e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

Criado em: 15 de Julho de 2024 Autor: Marcela Belleza

A doença cardiovascular é a principal causa de morte em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Os betabloqueadores são medicamentos que podem reduzir a mortalidade cardiovascular em diversas condições, porém podem aumentar o risco de broncoespasmo e exacerbação de DPOC. O estudo BICS, publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) em maio de 2024, avaliou a segurança do bisoprolol em pacientes com DPOC [1]. Este tópico do guia revisa o tema e resume o estudo.

Tipos e aplicação de betabloqueadores

Betabloqueadores (BB) são medicamentos que atuam bloqueando a ação das catecolaminas nos receptores beta-adrenérgicos. Os receptores β₁-adrenérgicos predominam no miocárdio, enquanto os receptores β₂ são mais encontrados na musculatura lisa endotelial e brônquica.

O bloqueio beta-adrenérgico é benéfico em situações como a insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER), taquiarritmias, angina e hipertensão portal. A escolha do BB deve considerar sua seletividade em relação ao receptor beta-adrenérgico.

Alguns exemplos de BB β₁-seletivos são atenolol, bisoprolol e metoprolol [2]. Esses medicamentos podem ter afinidade até 20 vezes maior pelos receptores β₁ em comparação aos receptores β₂ [3]. Os BB não seletivos, como propranolol e carvedilol, são preferidos para manejo de hipertensão portal. Na ICFER, os BB com benefício são o succinato de metoprolol, carvedilol e bisoprolol [4]. Esse não é um efeito de classe e outros BB, como o tartarato de metoprolol, não demonstraram benefício na ICFER [5].

A ação em múltiplos receptores adrenérgicos explica efeitos colaterais importantes dos BB, como bradicardia, hipotensão e broncoespasmo.

O Guia tem outros tópicos com aplicações dos BB: no paciente com cirrose, na hipertensão arterial, após infarto agudo do miocárdio, na doença coronariana crônica e na fibrilação atrial.

Uso de betabloqueadores e risco de broncoespasmo

O uso de BB pode estar associado à exacerbação de broncoespasmo em pacientes com asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) através do bloqueio dos receptores β₂. Essa preocupação motivou diversos estudos sobre o tema, especialmente em pacientes com DPOC, já que estes pacientes estão em uma demografia com sobreposição de comorbidades cardiovasculares que se beneficiam do uso de BB.

As evidências atuais indicam que, havendo indicação clara de benefício de BB, esses medicamentos não devem ser contraindicados pelo risco de broncoconstrição e piora da função pulmonar. Uma metanálise de estudos observacionais publicada em 2014 avaliou o uso de BB em pacientes com DPOC e encontrou redução de mortalidade geral e cardiovascular nos pacientes em uso de BB [6].

A atualização de 2024 do Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease reforça que BB devem ser usados em pacientes com DPOC que possuam indicação cardiovascular aprovada. Nesses casos, o documento favorece o uso de BB cardiosseletivos [7].

A diretriz da Sociedade Internacional de Hipertensão indica que o tratamento de escolha da hipertensão em pacientes com DPOC seja o mesmo da população geral (bloqueadores de receptor da angiotensina, bloqueadores do canal de cálcio e/ou diuréticos). Os BB cardiosseletivos podem ser usados em populações com indicação de BB (como na doença arterial coronariana e insuficiência cardíaca) [8].

Análises secundárias de estudos que avaliaram os BB β₁-seletivos em pacientes com DPOC e doenças cardiovasculares encontraram redução de exacerbações de DPOC [6, 9]. Contudo, o estudo BLOCK COPD de 2020 mostrou achados contrários. Esse estudo avaliou a segurança do metoprolol em pacientes com DPOC que não tinham motivo cardiovascular para usar BB [10]. O estudo foi interrompido precocemente, por futilidade e preocupações com segurança. Foram acompanhados mais de 500 pacientes por cerca de sete anos. Não houve diferença no tempo para a primeira exacerbação de DPOC entre pacientes em uso de metoprolol ou placebo. Porém, aqueles em uso de metoprolol tiveram maior risco de exacerbações com necessidade de hospitalização.

As incertezas sobre o risco de broncoespasmo e complicações respiratórias com BB motivaram a realização do BICS, um novo estudo sobre essa questão em pacientes com DPOC.

O que o estudo BICS encontrou?

O BICS foi um estudo randomizado, duplo cego, controlado por placebo, realizado no Reino Unido [1]. Os autores avaliaram o uso de bisoprolol em pacientes com DPOC com obstrução pelo menos moderada do fluxo aéreo (VEF1/CVF < 0,7 e VEF1 < 80% do predito) e pelo menos duas exacerbações da doença no último ano (tabela 1). O estudo excluiu indivíduos que tinham indicação de uso do BB por alguma indicação (como ICFER ou doença coronariana).

Tabela 1
Gravidade de obstrução ao fluxo aéreo pós-broncodilatador na DPOC
Gravidade de obstrução ao fluxo aéreo pós-broncodilatador na DPOC

O desfecho primário avaliado foi o número de exacerbações de DPOC com necessidade de corticoide sistêmico e/ou antibióticos, com a hipótese de que o bisoprolol poderia reduzir o número de exacerbações. Foram randomizados 258 pacientes para o placebo e 261 para o bisoprolol (em dose inicial de 1,25 mg/dia até o máximo de 5 mg/dia).

Após um acompanhamento de 52 semanas, não foi observada diferença no desfecho primário entre os grupos. Também não houve diferença em eventos adversos graves.

Apesar de não ter comprovado a hipótese, o estudo não encontrou sinais deterioração de DPOC com bisoprolol, com segurança similar ao placebo. Esses achados reforçam as recomendações das metanálises e diretrizes quanto à segurança do uso de BB em pacientes com DPOC. Porém, se opõem à conclusão do BLOCK COPD realizado em 2020. Os autores ressaltam três aspectos que podem explicar as diferenças:

  • No BLOCK COPD, a população selecionada tinha doença mais grave (maior prevalência de uso de oxigenoterapia domiciliar e menor VEF1).
  • Antagonistas muscarínicos de longa ação foram usados com menor frequência no BLOCK COPD. Alguns estudos sugerem que essa classe de broncodilatadores é superior às demais em prevenção de exacerbações e hospitalizações por DPOC [11-13].
  • Apesar de ambos os BB estudados serem β₁-seletivos, o bisoprolol é ainda mais β₁-seletivo que o metoprolol.

Broncoespasmo induzido por outros medicamentos

Além dos BB, outros medicamentos podem causar broncoespasmo e piorar sintomas na DPOC ou em outras comorbidades. Os inibidores da enzima conversora de angiotensina são frequentemente relacionados a sintomas respiratórios, especialmente a tosse. Porém, também estão associados a asma e broncoespasmo [14].

Anti-inflamatórios e aspirina podem estar relacionados a broncoespasmo, pois aumentam a síntese de eicosanoides e leucotrienos [15]. Intolerância a aspirina acontece em 10 a 15% dos pacientes com asma [16, 17].

Existe risco de indução de broncoespasmo com administração de medicamentos inalatórios. O tópico de antibióticos inalatórios revisa o assunto.